domingo, 23 de dezembro de 2012

Deu bandeira na punheta.

Eu fui me alistar ao exército brasileiro. Meu nome é João Paulo. Conhecido entre os amigos como João da Bronha. Nunca neguei esse apelido, muito pelo contrário, eu justificava-o. Várias vezes meus amigos me surpreenderam tocando uma e, eu nunca, nunca mesmo, fiquei envergonhado pela situação em que me encontravam. Meus amigos vinham com piadinhas e tal, mas eu sempre tive uma resposta na ponta da língua: sou feio pra caralho e minha mão é mó gostosa.

O dia do alistamento foi muito chato. Só uns exames sem graça, jurar bandeira e tal.

Você quer servir ao exército brasileiro?!
Quero sim senhor...
Responde igual homem!
QUERO SIM SENHOR.

Me admitiram como milico.

Eu estava sossegado, tocando as minhas, limpando armas, fazendo ronda, arrumando a cama. Um dia um oficialzinho de merda com uma patente superior à minha me surpreendeu enquanto eu praticava a ação que justificava o meu apelido.

Porra, João.
Foi mal, senhor. Quero dizer, desculpa, senhor.
Vai ficar tocando punheta no quartel?
É que eu gosto, senhor.
Puta que pariu! Eu também gosto, mas eu tenho modos e respeito pela pátria. Imagina se você goza na bandeira!
Eu sempre tenho muito cuidado, senhor.
Foda-se. Tu ta preso.
Não precisa disso, senhor. Eu sou um bom soldado, você sabe. Vou parar com essa mania.
Hahahahaha, parece um punheteiro nato falando. Só te faltam umas espinhas pela cara.
Desculpa, senhor. Acho que não é caso pra me prender.
Eu tenho que te prender e, afinal, todo mundo toca punheta por aqui. Isso vai ser só pra você ficar mais esperto e baratinar melhor.
MAS, MAS MAS...
Não tem mais nem menos. Você ta preso por uns dois dias, mas pode ficar sossegado que você vai ter um banheiro só pra você. Agora vai tocar por dois dias sem parar e sem ninguém ver, hahahaha.

Eu fui preso. Foram os dois melhores dias da minha estadia no quartel.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

A viagem interrompida pela roleta de energia renovável.

A decisão foi tomada rapidamente. Os seis camaradas sonhavam com a viagem há muito tempo. Era só juntar a grana, que não era pouca, organizar a tralha e ir pro aeroporto. Não passavam de uns jecas. Um já havia saído do país, mas nada que se possa comparar a uma viagem para Las Vegas. Todos vagabundos que de alguma forma ganharam certa grana trabalhando mal e porcamente, gastando com cerveja, conhaque, vinho e Derby Azul.

Pegaram o avião em Curitiba com uma puta cara de ressaca para só pisarem em terra novamente na escala em Houston. Nesse aeroporto, comeram, compraram Camel usando seus contados dólares. Tinham que fazer isso. Consideravam esse ato como um ritual de amizade. Fumaram, passearam pelo aeroporto, decepcionaram-se quando perceberam que era verdade a história que a brasileira é a mulher mais bonita do mundo.

No avião:

-O, meu, vou deitar meu banco, beleza?
-Ah vá se foder.

-O, meu, só faltou um basi.
-Pior que seria massa. Chegando lá é a primeira coisa que a gente vai fazer, certeza. E tomar um conhaque.

-O, meu, imagina a gente lá.
-Não tem como, cara. Nós somos uns puta desgraçados de sortudos.

-O, meu, imagina aquelas tiazona de tumblr deitada na mesa mostrando os peitos.
-Cara, pare de viajar, e pega igual homem esse Doritos porque você parece uma baitola.

Desceram em Las Vegas.

-Cara, L.A é muito linda!
-Puta que pariu, você é burro pra caralho...
- L.V...L.V.

Pediram um táxi para ir para o hotel mais mais-ou-menos da cidade. Chegaram causando no hotel. Brasileiro é foda, ainda mais os bêbados. Só gritaria, chororô de felicidade, risadarada e ninguém aí pra nada. No taxi foi foda falar inglês, ainda estavam sóbrios, mas no hotel... Esqueci de comentar que havia um bar ao lado do hotel. No taxi:

-It's here guys. It cost ten bucks.
-Eu pago.
-Vamos dividir.
-Relaxe, depois você paga a beer.
-Beleza.
-É...é...It's here.
-AEEEEE ELE FALOU INGLÊS!

-Meu, não acredito, tem um bar do lado do nosso hotel.
-Gooool do curintiá.
-Puta merda, pobre é sortudo pra caralho.
-Hahahahahaha

No check-in, todos parlavam o inglês de bêbado se achando, mas não se pode negar que a bebida ajudou.
Entraram no quarto, jogaram as coisas nos beliches.

-Where is the cigarette?
-Fale português aqui, porra.
-Hahahahah
-Cadê o careto?
-Tá.

-Vamos pra onde, putada?
-Tem piscina aqui?
-Deve ter, mano. Estamos nos states.
-Eu prefiro ir pra um cassino logo. Quero me viciar nesses games loucos daqui e não voltar mais.
-Eu também.
-Ah, então vamos.

É claro que o cassino também era o mais mais-ou-menos. Mas era um cassino em L.A, digo L.V. Quando eles chegaram, o pessoal da casa pensou que se tratava de um documentário ou uma refilmagem da cena de Fear and Loathing in Las Vegas, mas não, não era. Eles estavam realmente bêbados.

-I'LL PLAY ROLETA ALL NIGHT.
-POUPE-ME DO SEU INGLÊS BARATO.
-SE ISSO AQUI FOSSE GOVERNADO PELO ROMNEY SERIA MUITO MAIS TESÃO.
-E NÓS NÃO ESTARÍAMOS AQUI.
-É.
-AONDE É O BAR?
-AQUI.

Beberam bastante. Como era um cassino vagabundo, barato, só passava por lá gente da pior laia. Viciados em qualquer coisa, bêbados, velhos broxas, psicólogos e estudantes gringos.

-O, CADÊ AS STRIPPERS?
-NÃO TEM STRIPPER AQUI, CARA.
-A É?
-É.
-VAMO JOGA?
-COMO QUE A GENTE VAI FAZER?
-DEIXA COMIGO.

...

-WE WANT TO PLAY.
-Ok guys. Take your sit and... Please, watch out the cigarette burning the table... Oh lord!
-SORRY MAAAAN...
-COMO SE JOGA ISSO?
-SÓ ESCOLHE O NÚMERO E TORCE PRA CAIR NELE.
-BELEZA. QUERO O 13.
-QUERO O 45.
-24 HEHEHEHEHEHEHE
-...
-...
-...
-22
-12
-THIRTY THREE.
-So, let's play boys! Who will be the winner?

E o dealer rodou a roleta. Todos arrepiaram-se. Quem iria vencer? Eles se consideravam um time. Qualquer um que vencesse significaria vitória para todos. Mas a roleta ainda estava girando, os nervos à flor da pele, ela não parava e nada acontecia...

-PORRA, MAS QUE MERDA ISSO.
-É. HEY GARÇOM, BRING A BEER
-TWO BEERS.

E o tédio começou a tomar conta deles. A roleta não parava. Seria um sinal?

-THREE BEERS.
-HEY DEALER! WILL THIS SHIT STOP SOMEDAY?
-MAAAAAYBE GUYS... MAAYBE.

Ela nunca mais parou e eles, bem, eles ficaram lá, bebendo e fumando.





terça-feira, 16 de outubro de 2012

Mendigo, mendiga...

Eram 3:48 da madrugada. Sexta-feira. As ruas estavam prontas para a ressaca de sábado, todas sujas com as histórias bêbadas do povo que sai baratinar a rotina. Todos têm esse direito. O abandono do Mercado Municipal se torna o covil perfeito para o nascimento das mais desregradas e espantosas cenas. Depois do baque do crack, Santinha só pensava em fumar mais e transar.

Vamo ali no canto.
Vamo.

Quatro meses depois, Santinha já tinha dificuldades para caminhar por Ponta Grossa. Pelo menos não se preocuparia mais com menstruação. Odiava sair sangrando pelas ruas. A barriga crescia e a necessidade de alimentar mais um ser começava a dar o ar da graça. O sopão da casa da irmã Scheila passou a ser indispensável. Santinha passava lá todo dia lá pelas nove da manhã, de ressaca ou não. A esquina ficava cheia de mendigos, cada um com a sua história e a sua barriga vazia. Muitas gaiotas.

Depois de comer , Santinha saía perambulando pela cidade. Cada dia com uma pessoa diferente. Fumavam crack, mendigavam, andavam pelo centro incomodando as campanhas políticas.

Na maior parte do dia, Santinha era alheia à barriga que crescia. Pensava só na barriga vazia. Era óbvio que a barriga incomodaria logo, não por estar vazia, justamente o contrário. Mas mãe, ainda mais de primeira viagem, tende a preocupar-se pelo menos um pouco com a vida do feto. Com o quinto mês chegando, Santinha realmente se deu conta de que já era mãe.

Pensava seriamente em parar de fumar crack, mas só pensava. Pensava em como nasceria o filho, nos problemas posteriores, mas os rápidos intervalos em que não tinha a droga espantavam essas preocupações, deixando a cabeça com outras. Na praça deve ter algum moleque vendendo.

Saiu pedindo dinheiro, e em menos de uma hora conseguiu o necessário. Escondeu-se e fumou, sozinha. O cachimbo havia ficado ridículo. Como havia pouco tempo que fumava,  mal sabia fazer seu próprio cachimbo. Mas deu certo. E os efeitos da droga vieram muito fortes. Paranoias dantescas, principalmente quando se dava conta de que já era mãe. Pensava seriamente em aborto para poupar a criança da vida sofrida que vinha a galope, sem escapatória. Se perguntava se nasceria menino ou menina. Se fosse menino teria o nome de Jackson, se o contrário, Elis. Se menino, ela queria que fosse genioso. Um mendigo que briga mesmo sem cachaça. Se menina, que fosse bonitinha a ponto de ser disputada a tapa pelos outros mendigos. Não importava. Fosse o que fosse, seria macho. Afinal, mendigos são mendigos. Para os outros, até mendigas são mendigos.

Chegou o sétimo mês. Santinha já estava enorme. Precisava de mais de um papelão pra dormir. Um boa-alma lhe deu um cobertor de casal. Uma boa-alma compadeceu-se e deu-lhe uma touca. Itens indispensáveis no inverno das ruas pontagrossenses. A barriga a obrigava a pensar mais na criança. Duas bocas para alimentar, mais papelões para dormir, ensinar a mendigar, lidar com os cães da rua, intolerância dos que têm dinheiro. Considerou pela enésima vez a ideia do aborto. O desejo de criar um mendigo não nasce em ninguém, mas com sete meses de vida, eles já brigam por esta, mesmo que na cabeça da mãe.

Por causa da barriga e das dificuldades que esta lhe impunha, ficava só pelo centro, na praça e calçadão. Dormia por ali, comia por ali, reclamava por ali, se drogava por ali. Ela ja contava dez meses de gravidez, mas na verdade ainda era o oitavo. A criança queria sair. E na noite mais fria do ano, ela manifestou sua vontade. Rompeu o que tinha que romper justo quando Santinha estava fumando. A correria dos dois mendigos que estavam juntos foi enorme. De uma hora para a outra, transformaram-se em salvadores, amigos e médicos. Ou pelo menos tentaram. Um largou a pinga e correu para a farmácia pedir ajuda. O outro ficou ali, meio atônito, mas quando a criança saiu, tomou um gole da pinga e a segurou .

Corta isso aí duma vez porra.
Eu não. Vai que mata.
Mata nada.

Pegou sua lâmina velha e cortou.

Me da aqui.
É um piá.
Um piazinho!
E vai faze o que com ele?
Faze o que... Vo cria né.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Cruzada de fé

Talarico era um cara comum. Jovenzinho de uns catorze, bem sucedido entre os amigos, de família tradicional e conservadora. Tinha um tio meio maluco que sumia da sua vida de vez em quando. Uma vez Talarico vestiu a camisa de Jesus Cristo no estilo presbiteriano, influenciado pelo seu tio estranho. Quando digo que Talarico vestiu a camisa de Jesus Cristo no estilo presbiteriano, quero dizer que Talarico virou um crentão sem graça, daqueles que ia aos cultos todo domingo, lia a bíblia e tentava converter seus pais.

Antes de tornar-se um ser insosso, Talarico já se perguntava sobre a existência de algum deus, e corria atrás  da perca da virgindade. Era namorador, e essa era uma das maiores identidades dele. Era coisa de linha genética. Deus não muda uma coisa dessas, e mesmo participando da comunhão dos irmãos, ficava de olho nas irmãzinhas. Aliava o seu bom gosto pelas fêmeas, junto às exortações bíblicas sobre relacionamentos santos somente heterossexuais.

Como era um cara "ajeitado", de autoestima pendente ao narcisismo, acabava flertando regularmente com algumas garotas de bíblias embaixo do braço. Essas eram aquelas que uniam a santidade à beleza secular.

Não demorou muito para pescar a que era considerada o maior peixe da congregação, e logo saíu exibindo a conquista pela igreja, causando inveja aos fiéis.

Talarico gostava um pouco dela no começo, mas com o passar do tempo foi se tornando mais servo do senhor, e ela o acompanhava nessa jihad egocêntrica, o que fazia com que, aparentemente, os dois se entregassem mais ao relacionamento, até aí sempre tentando ser santo, diga-se de passagem. E assim foi. As famílias se conheceram, alianças foram trocadas, juras de amor bíblico (sempre eterno e incorruptível) foram ditas, até que o namoro começou a ficar com ares de namoro sério, não pelas doutrinas cristãs, mas pela troca de palavras e sentimentos.

A mãe da namoradinha de Talarico começou a preveni-lo sobre uma má notícia que vinha a cavalo. Coisa de crente mesmo. Premonição, visão, encosto, revelação, o diabo a quatro. Talarico permanecia firme na rocha do senhor. Até que começou a desconfiar. Parecia que as duas famílias guardavam um segredo colossal. O clima era cada vez mais tenso a cada encontro que reunia os familiares com os namorados. O segredo foi revelado pela sogra, sempre participativa na intimidade do casalzinho.

Era caso de doença. Sua parceira estava doente, e ele quase ficou. A doença era uma leucemia, cuja gravidade não é necessária ser introduzida ao texto. Talarico desfaleceu em lágrimas, orava por horas a fio pedindo ao seu novo fiel deus para que intervisse na enfermidade. O clima ficou péssimo, mas não por muito tempo, pois a cura era certa segundo a Bíblia, e Talarico confiava nela cegamente. Segundo ela, Deus era onipotente. E o tempo foi passando, Talarico orando, as famílias se compadecendo da situação, a assembléia toda já sabendo e o pastor fazendo cruzadas de fé pela cura.

A menina não demonstrava sinais de melhora, mas também não piorava. Estava na mesma situação de antes. A doença não avançava com o tempo, o que era algo bom, mas começou a dar espaço para alguma desconfiança. Talarico não desconfiava, nem da sua Bíblia e nem da mulher que tratava por futura esposa. Começou a ama-la perdidamente. Enlouqueceu por elas, doença e namorada.

Bastante tempo passou desde que a notícia da doença foi compartilhada com todos. A família de Talarico já era descrente da legitimidade da enfermidade. Aí deu-se o início de uma guerra. Talarico virou as costas para a própria família, que tentava convence-lo da falsidade do diagnóstico. A coisa ficou feia, o afastou da família e o aproximou da sogra que, com todas as forças tentava mostrar o quanto a filha estava sofrendo, se acabando numa depressão que ninguém percebia. Ele, abestalhado com a cena abatedora, concordava com tudo isso de olhos e ouvidos tampados.

As ditas cujas conviviam muito bem, menina, doença e estória. E isso foi sendo jogado na cara dele pela família, cada vez com mais frequencia.

A situação foi ficando insustentável. A família de Talarico achou que era necessário um ultimato. Se estava doente, que fossem revelados os diagnósticos médicos. Chega de falácias, chega de fé divina. O menino que só enxergava a medicina divina como um meio de provar a doença, foi desafiado pela medicina do homem.
Até boa parte da igreja compartilhou dessa ideia, vejam só, que fé inabalável. E Talarico aceitou o desafio. Tinha o seu deus como fiel escudo contra o que chamava de tramas do satanás. Quis ver o diagnóstico terreno para poder esfrega-lo junto com a bíblia na cara da própria família.

Meu amor, vamos mostrar pra eles, mostre o resultado do exame.
Ah, não precisamos disso. Você acredita em mim, e acredita em Deus, sabe que ele vai me curar.
É claro que eu sei, mas vai ser uma prova do Senhor de que ele pode curar você dessa Leucemia.
Eu e minha família sabemos da doença que eu tenho. Você também sabe, Deus sabe, e vai me curar.
Vai sim, mas eu também quero ver esse papel.
Você está duvidando de mim.
Não, não estou, mas preciso ver isso e mostrar isso pra minha família. Eles estão me cobrando, e vai ser bom provar pra eles.
Vou falar com a minha mãe, ver se ela ainda tem o papel do exame.

Diz-se, até hoje, que ela perdeu o papel. A igreja exigiu o aparecimento deste, coisa que aconteceu, e o resultado já era visto. Eles terminaram o namoro, a igreja presenciou um ato novelesco de dissimulação e a cruzada de fé acabou.


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A vagabundinha deficiente

Cassio caminhava para a praça. Estava mais atento às mulheres da rua que à música que ouvia. Passava por uma, dava uma olhada na firmeza dos seios e tal. Rosto bonito. Andava mais um pouco, olhava outra. Pernas de gazela, fortes, daquelas que aguentam certo esforço por um bom tempo. Quando passava uma vindo na sua direção, logo se perguntava se deveria olhar a bunda. É normal ficar meio cabreiro por ser identificado como um tarado das ruas. Tocava o foda-se e, assim que ela passava por ele, ele virava o pescoço como se fosse uma coruja. Arregalava os olhos como uma coruja. Bunda boa. Da vontade de seguir até os confins da terra.

Chegou na praça, acomodou-se no banco mais escondido. Coxou seu baseado. Fumou seu baseado. Pirou com a música do discman.

Saiu a caminhar sem destino. Sem destino mesmo, só curtindo a brisa, os barulhos e as mulheres da rua. Esse era o sentido da vida para Cassio. Nada mais era necessário. Só a brisa da maconha, sempre pautada pela correria das ruas, contrastando com o ritmo diferente em que procurava estar.

Chegando ao centro da cidade, as mulheres bonitas surgiam aos borbotões, e ele já começava estabelecer as suas táticas de contemplação de mulheres aleatórias de maneira que não perdesse nem um atribunda, digo, atributo. Para ele, essa fartura era uma dádiva dos deuses. E realmente ele tinha táticas de contemplação de mulheres aleatórias nas ruas. Só que em uma dessas investidas, a tática falhou. Ele achou uma teteia, mas tão teteia, que todas as outras gostosas passaram despercebidas por ele. Ele apenas parou, de longe e ficou a seca-la.

Cassio nunca foi um cara pegador. Geralmente esperava a mulher quase falar, EI, PODE VIR, TAMBÉM ESTOU TE QUERENDO, VAMOS FICAR.

Dessa vez, ele quase não aguentou, queria agarrar ela ali mesmo. Olha essas pernas, dizia para si mesmo. Que bunda! Que cabelo! Que sorriso, que sutileza de pessoa! Ela ali, parada, estática a olhar uma vitrine de bom gosto e ele do outro lado da rua, quase com o pau na mão. Coisa de chapado mesmo. Ou melhor, de homem. Não se contentou com a distância e atravessou a rua. Quanto mais perto chegava, mais linda ela parecia. O seu tesão aumentava a cada passo que dava. Chegou na esquina, parou, contemplou e... não se contentou. Começou com as típicas paranoias de chapado, que estava sendo seguido, que todo mundo olhava pra ele, mas a beleza da mulher olhando a vitrine era muito mais magnética do que qualquer viagem de maconheiro. Respirou fundo, tirou os fones e foi ao lado dela na vitrine. Deu uma de joão sem braço mesmo.

De supetão, ela vira o rosto para ele. Ele quase mija gozando. Retribuiu o olhar, mas na sua cabeça o cagão falava: WTF, VAI SECAR A MINA NA CARA DURA?! Ja não era mais secar. Ela também parecia secar ele. E se secaram por uns bons três segundos. Ele não criou coragem para tentar uma investida. Ia ser patético. Ele ia acabar citando Shakespeare em plena Bonifácio Vilela. Já ela, por mais perfeito que pareça, disse oi, qual o seu nome? Ele pescou o nome e disse: Cassius.

Tudo bem, Cassius?
Aham, e você?
To bem. Vai fazer alguma coisa hoje à noite?
 Não, não, não, claro que não.
Então anota o meu número e me liga, quem sabe queira me ver.
Quero, quero, quero.
Legal, anota aí: Josislaine 998765673.
Beleza, te ligo depois.

Ela se virou e Cassio quase chorou. Quanto mais ela se distanciava, mais atônito ele ficava. Aquele jeito de andar, não era normal. A beleza foi se desfalecendo, mas a vontade de come-la permaneceu, mesmo constatando que ela era deficiente física. Ela andava toda TORTA. Mas ficava parada como uma modelo de moda íntima. Cassio não sabia mais o que fazer. Pô, ela é uma puta gostosa, mas é deficiente. Pego, não pego?

A imagem dela parada a olhar a vitrine não saia da cabeça dele. Não queria acreditar no que aconteceu depois. Ela se entregou para ele e, saiu... manquitolando. Mas qual era o problema? É só uma pessoa um pouco diferente das comuns, é só olhar com outros olhos, pensar um pouco por fora do pensamento comum e mandar ver.

Alô.
Alô. Quem é?
Oi... Jo... Josislaine.
Quem fala?
É o Cassio.
Cassio? Não conheço.
É, te vi na rua hoje, você me deu seu número, lembra?
A é. O gatinho que chegou do meu lado e que parece ter uma pegada forte.
Hehe, não é por nada, mas acho que tenho sim.
Então, ta afim de me ver?
Claro, agora mesmo.
Mas você é afim de SAIR comigo ou ter um encontro mais DIRETO.
O mais direto possível. Quanto mais direto melhor. Gosto das coisas diretas. Gostei de você por ser direta. Quero tudo direto. Quero fazer direto.
Ta, ta, ta, entendi. O que acha de vir aqui em casa?
Com certeza.
Ãhn?
A, vou sim.
Ok.

Cassio foi. Chegou fácil ao lugar indicado. Era um apartamento um tanto suspeito. Era lindo, mas tinha um ar de covil da trepação. Tocou a campainha e demorou um pouco para ela chegar na porta. Ele entendeu bem o porquê. Bem por isso pensou em voltar atrás, mas ela abriu a porta e sua camisola logo o convenceu a seguir em frente. Ela o beijou. Na boca, logo de cara. Um selinho, mas foi na boca. Deu a mão para ele e seguiram em frente. Ele precisou ser complacente. Andou no ritmo dela.

Chegaram no quarto, mal se falaram e ela ja deitou na cama. De barriga para baixo, ela o deixou sem palavras. Que mulher sensacional. Exuberante!

Começou a putaria e... CARALHO, como ela TREPA BEM. Não era de se admirar que ela se remexesse de uma maneira peculiar, o que estimulava o pau dele magnificamente. E transaram, transaram, transaram até   dizer chega. Foi o melhor sexo da vida dele.

Cassio meio que se apaixonou por ela. Queria ela o tempo todo.  Ela trepava com VÁRIOS caras além dele. Muito por um lance de autoestima mesmo. Ter vários caras e ter uma deficiência era para poucas. Manteve contato, treparam por um ano a fio.

Uma vez, ele louco para trepar, ligou para ela. Ela disse que não podia encontrar ele naquela semana pois ia para a faca. Faria uma cirurgia para corrigir seus problemas e teria que ficar de molho. Ele achou ótimo. Tudo iria melhorar. Poderia até sair de mãos dadas com ela na rua e quem sabe pedir ela em namoro.

A semana de espera foi longa. Muita punheta. Ela ligou para ele dizendo que ja estava melhor e poderiam se encontrar.

Ele, como sempre, foi à casa dela. Quando ela abriu a porta, parecia que nada havia mudado. Um tesão de mulher. Já quando ela começou a andar, pular, fazer piruetas e afins, ele ficou abismado. Ela está perfeita! Vamos transar de uma vez!

Levou ela pra cama. Ambos afoitos, quase se comendo no corredor. Deitou ela, e começaram.

Cassio trocava de posição em menos de cinco minutos de sexo. Estava inquieto. Não era mais a mesma coisa. Procurava desesperadamente aquelas transas míticas de sempre. Nada. De nem um jeito. Queria gozar de uma vez e ir embora. Não queria mais saber dela. Uma mulher que perdeu a capacidade de transar.



sábado, 8 de setembro de 2012

Resultado da entrevista que eu fiz comigo mesmo.

"Então, José, conte-nos como está sendo morar sozinho."
"Uma ressaca só"
"Quer dizer que passou a beber bastante?"
"Haha, bastante? A galera aqui é alcoólatra."
"E como consegue conciliar esse estilo de vida com todas as outras coisas?"
"Não concilio, faço uma de cada vez como se não tivesse mais nada pra fazer depois."
"Até no trabalho?"
"Ah, o trabalho é uma merda. Pule essa parte."
"Entra em contato com seus pais?"
"Raramente."
"Sente falta deles?"
"Raramente."
"Na verdade você não mora sozinho, divide um apartamento apertado com um amigo, é isso?"
"Basicamente."
"Você se da bem com ele?"
"Perfeitamente, ainda mais agora que comprei uns protetores pra não sujar o fogão."
"Mas como vocês interagem?"
"Eu falo pouco, ele fala menos ainda. É perfeito. Só comentários pertinentes."
"Os dois são guitarristas?"
"Sim, músicos. Mas eu ando meio relaxado."
"Está gostando de morar sozinho?"
"Está sendo interessante, bem interessante. Temos até um gato."
"Isso soa meio gay. Dois caras e um gato num apartamento pequeno."
"Haha, soa mesmo."
"Como é o nome do gato?"
"Tom Zé."
"E de onde surgiu?"
"O nome ou o gato?"
"Isso me lembrou um vídeo: O GATO OU O QUICO?"
"To ligado qual é, mas você quer saber do GATO OU DO NOME?"
"Do gato."
"Ah, o gato foi minha namorada que deu. Ele já é velho, mas bem malandro."
"Legal. E sua namorada? Agora que você está morando "sozinho" estão transando pra cacete, presumo."
"Pior que nem tanto. Por incrível que pareça rola mais na casa dela, com família e tudo. Mas estamos transando mais sim. Mais e melhor. Nós dois formamos um casal foda."
"Isso é bom. Longevidade."
"Longevidade o cacete. A bebida e o Classic se sobrepõem a qualquer hábito saudável."
"Tudo bem, tudo bem. Pelo jeito a coisa tá frenética."
"Também não é tanto. Ainda não virei um mito."
"Pretende virar?"
"Quem não?"
"Que tipo de mito?"
"Ah, um dos clássicos. Um daqueles que virem referência pra algo foda. Tipo uma nova linguagem, sei la. Já quis ser um mito da música, mas creio que foi fase. Agora eu toco pra curtir. Curto pra caralho tocar, fazer umas jams de ressaca com os camaradas. Banda é algo muito metódico. Ainda mais uma banda desses roquenrou de hoje em dia. O orgasmo musical é a galera terminar de tocar, cair na gargalhada e se perguntar de onde tiraram aquilo."
"Boa. E pretende fazer o que da vida?"
"Ah, passei no vestibular agora, mas isso não muda muita coisa, a não ser o fato de eu parar de trabalhar onde não gosto. Isso é o mais importante."
"Passou em que?"
"Jornalismo."
"Vai ser puta."
"To ligado. Já disse que se eu fosse mulher daria uma bela puta."
"Mas por que Jornalismo?"
"Ah, vai se foder. Já não chega os "ve-te-ra-nos" perguntando isso. Fiz pra me entreter."
" É justo."
"É. Vou pegar um cigarro. Quer um?"
"Quero."
"Acabamos com as perguntas?"
"Você é quem sabe."
"Ta, to com preguiça agora."
"Tem cerveja aqui?"
"Não. Só Presidente."
"Massa."
"Se é..."

terça-feira, 31 de julho de 2012

Morrer de fome

Acordo cedo, fumo um cigarro enquanto cago, escovo os dentes e vou trabalhar. Não dá tempo de comer, nem um pão nem um nescau, muito menos um café de campeão da mamãe. Para alguns a vida muda muito, para outros muda tanto que passa a se chamar morte. Os que não conseguiram uma experiência tão intensa, no máximo mudam de casa, passam fome de manhã e passam a morar mais longe do trabalho.

Mudança de vida. Você só percebe alguma mudança na sua vida quando algo muda para pior e/ou mais difícil na sua rotina. Tomar chuva por mais de uma quadra. Passar a acompanhar a inflação nos produtos alimentícios e marcar a feira no calendário. Torcer pelo sossego. Distrair-se da saudade assistindo novelas.
Quando algo muda para melhor, não demora muito e começa a passar despercebido, despertando a insatisfação.

Arrependo-me amargamente de ter tido a infame ideia de limpar o barbeador elétrico na janela do terceiro andar e ver um pedaço do aparelho sendo amassado por um caminhão. Agora contento-me com barbeadores descartáveis de 1,99.

Para a sua vida melhorar, a de alguém tem que piorar ou passar por uma mudança drástica. Apesar dos apesares, a minha vida melhorou e não fugiu dessa regra. Para melhorar, alguém tinha que se foder. E não é que foi o padeiro?

Quando eu levava a minha vidinha sossegada, fui marrento. Um dia pedi para abrir uma conta na padaria ao lado de onde eu trabalho. Não tive o meu pedido concedido e ainda fui maltratado pelo padeiro. Juro que quis muito o mal pra ele. Mas não tanto. A atitude que tomei foi a de nunca mais comprar NADA naquela merda de padaria.

Cerca de dois meses depois, cheguei faminto ao trabalho. Fiz o que era necessário fazer nos dez primeiros minutos, conforme a barriga deixava. Cedi à tentação. Fui ao meu armário pegar grana pra comprar algo NA MERDA DA PADARIA. 

Não é que eu chego lá, com o rabo entre as pernas e... o padeiro, hehe... está... MORTO!

Pois é, minha vida mudou. Agora ela é mais difícil em alguns aspectos, tranquila em outros. Rápida, lenta, rasteira, fedorenta e apaixonada no mesmo dia. Agora eu posso fumar na sala e também ir na padaria do lado do trabalho comprar coxinha, mas essa é a parte boa, logo logo vai passar despercebida. Assim como a morte do padeiro.


ps: não matei ninguém

quinta-feira, 28 de junho de 2012

O instante em que Jesus angustiou-se

Jesus chegara em casa de bom humor. Abriu a porta, pisou na lavanderia e cumprimentou seu padrasto, Seu Augusto. Este lidava com o almoço, auxiliado pela esposa, mãe de Jesus, Madalena. Os três na cozinha, dividindo um espaço apertado, que sempre obrigava Jesus a desviar da mesa para poder logo chegar ao seu quarto.


Jesus não apreciava nada essa proximidade com os pais e, morando em um apartamento, logo entende-se a ânsia esquizofrênica que sentia ao entrar em casa e que fazia-o esgueirar-se de tudo e todos em direção ao seu quarto.

Todos os dias, quando entrava em casa, era isso o que acontecia. Algumas vezes mais intensas, como as em que queria esconder algo sórdido aos olhos de Madalena, outras vezes entrava distraído, tranquilo, não dando tanta atenção ao que o esperava nos cômodos do apartamento e sim pensando no que acontecia pelas ruas da cidade ou no trabalho de ambiente odioso. Jesus entrou sossegado, de respiração tranquila e pensamentos corriqueiros.

Passou por todos, cumpriu com louvor o protocolo de sorrisos, entrou no seu quarto e... Lá estava. Toda retangular, com letras garrafais, um simbolo solar que lembrava a arquitetura da catedral da cidade e a mensagem mais inesperada e direta possível: VENDE.


Jesus era um pouco alheio a sensações e reações sentimentalistas, mas não conseguiu responder à mensagem da placa de outra maneira, a não ser com um puta tremer de pernas e um esmagamento no miocárdio. A respiração tranquila acabou quando a intuição veio lhe dizer: "olhe em volta, olhe para todas as suas coisas, uma por uma, por mais demoradas e trabalhosas que foram para você conseguir, organizar e planejar." Jesus olhou. "agora que olhou, diga adeus."


Cortante. É o que foi. A ficha não caiu cedo. Jesus passou o dia remoendo aquilo. Como assim? Então era verdade tudo isso? Que iam se mudar e tal. Que era pra ele ir procurando outro lugar para acomodar as suas coisas e a sua bunda. Não podia ser. Levou nada mais nada menos do que quase sete anos para que  o seu reduto tivesse a sua cara. Com seus pôsters, caixas de som, instrumentos e livros, cheiros e ventos, seu cabide utilizado errado, a coleção de garrafas de cervejas e a janela. Porra, a janela. Tampada por um cartaz de imobiliária. A janela que era tampada para esconder tardes de sexo, ou escancarada para os vizinhos escutarem a guitarra gritando, agora servia de apoio para um cartaz que oferecia o seu quarto à alguém que, talvez fosse virgem, não tocasse guitarra nem tomasse cerveja e não alimentaria o quarto com livros jogados pelos cantos.

Jesus angustiou-se. Jesus quase enlouqueceu.

Jesus deu uma olhadela em tudo o que tinha ali. O preço que fora avaliado o apartamento, para Jesus, não servia nem para pagar a janela do seu quarto, com trinca e tudo. Só ele sabia do valor de sentar naquela janela, acender um cigarro, colocar o Band Of Gypsys para tocar e ficar olhando os bêbados mais bêbados do que ele irem para as suas casas.

Tudo isso estava fadado ao fim. E Jesus queria esse fim há muito tempo. Mas por um instante desquis.

sábado, 19 de maio de 2012

Crentices populares.

    A hipocrisia. Palavra batida, usada em demasia para substituir o ditado "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço".  Hoje o uso exagerado dela tem se feito necessário com a proliferação dos que  chamamos de "crentes" (sim, os evangélicos dos dízimos em nome do senhor Jeová aleluia). O ditado já citado pode muito bem ser adaptado para condizer com a conduta dessa galera chata que anda por aí. Eu sou bem capaz de dar uma ideia para a adequação do ditado. Aí vai uma: "Faça o que o meu pastor diz, mas não do jeito que eu faço" ou "Faça o que a bíblia diz, mas só o que é cômodo e traz benefícios".
    O meu local de trabalho está infestado desses seres que impressionam. Não raramente me sinto acoado em algumas situações que sou obrigado a presenciar. A facilidade em contar fatos da vida alheia, pisar em cima dos sentimentos (sempre jogando a cruz na cara) e logo depois usar como exemplo a "irmã" da congregação que vive fofocando o que se passa nas "células" é absurda! E eu me lembro bem que existem várias passagens bíblicas que exortam os "irmãos" sobre fofocas, intrigas e afins.
    E como reclamam, Senhor amado! Criam a maior teta de todas, que, segundo afirmam, é capaz de suprir todas as necessidades e ampará-los nas maiores dificuldades, mas nunca estão satisfeitos. Mas também não fazem nada para sair da situação em que estão. O crente que não crê em porra nenhuma do que prega. Repete o que escuta e quer que nós, que não temos nada com isso, sejamos castigados ouvindo os seus louvores e pregações que não têm nada de interessante ou edificante.
    Lascívia rolando solta no meio de mulheres casadas, que já são mães ou "líderes de célula". Certo dia um funcionário novo (que não sou eu) teve que trocar de camiseta e teve a barriga "definida" comentada pelo resto da semana. As mulheres faziam fila para ver ele trocar de camiseta. Cheguei a ver algumas delas quase implorando para que ele mostrasse. Eu nunca falo nada, sempre saio de fininho, afinal, meu ouvido não é penico.Sem falar que enquanto almoçam colocam os seus louvores para tocar a ponto de quase estourarem os auto-falantes do celular. E da-lhe tentar roubar a posição da outra na "escala pureza perante Cristo".
    Acho que não é necessário falar que isso tudo é uma baita falta de respeito com quem não compartilha do mesmo "crente lifestyle", mas é necessário ressaltar que a falta de respeito maior é de cada um com si. É aí que eu me delicio. Meu sadismo explode e, de incômoda a cena passa a ser cômica.

 

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Consequências de romances.

   No dia de ontem, Olga afirmou categoricamente que queria almoçar com Januário. Recebendo uma notícia dessas, Januário logo pegou no ar que Olga estava naqueles dias. Não naqueles, mas em outros, mais dengosos e sedentos. Dias de paixonite.
   Aproveitaram a paixonite, mostraram como nunca que eram um casal legal e fogoso, beijaram boa noite e cada um para o seu covil. O dela familiar, o dele escolar.
   Na outra manhã, como de praxe, Januário acordou. Se preparou para ir à labuta, sempre meio pesaroso pelas situações envolvidas, pelas dívidas divididas e pelas expectativas deste dia de vida. Uma dessas expectativas era o almoço. Afinal, para enamorados que se querem tanto próximos quanto possível, um almoço não cairia nada, mas nada mal. Sem falar que, com a correria dos tempos modernos, a necessidade de se preencher os cadernos e os bolsos, a cabeça e a estima dos pais, também preenche o nosso tempo de maneira inadequada, nunca dando espaços pros dois encontrarem-se. Era óbvio que Januário ia abraçar essa oportunidade de almoçar um almoço ordinário com Olga como desculpa para as vias de fato.Vias de fato limitadas pelo possível, claro.
   No trabalho, nada de novo. Nas expectativas também não. Januário contava o tempo de maneira paranoica, sempre calculando quantos beijos seriam possíveis em tal intervalo, levando em conta o que iam almoçar, se era um xis-treco ou um P.F no R.U. Volta e meia pensava também na melhor maneira de dizer que a amava e que pensava nela o dia todo. Melosidades necessárias, mas espontâneas.
   Em um desses momentos que Olga tomava rédea dos seus pensamentos, em pleno horário de trabalho, decidiu entrar em contato com ela para combinar a certeza do rango.
   Com os dedos discou os seguintes números: (xy)-xxyy-zzxx... tuuuu tuuuuu...ela atende rapidamente:
-Oi. Diga.
"Nossa, que merda de oi, que merda de receptividade. Não há de ser nada!"
-E ai, minha bonitona! Onde você está?
- To na Universidade...
-Vamos almoçar, né? Como faremos?
-Você tem certeza que quer almoçar junto? - ela retrucou.
"Que porra é essa? Já não estava certo que íamos almoçar, caralho?"
-Ué, meu. Eu quero, claro. A gente não combinou ontem?
-É eu sei...
- Então vamos, não?
-... ... ... ... é, dá pra ir.
"Porra, que desânimo! Ela não deve estar muito bem."
   Essas possibilidades sempre tocaram forte os pensamentos de Januário. Como as expectativas do almoço ainda não haviam passado, apenas balançaram, ele preferiu seguir a linha de raciocínio romântica, geralmente usada pelos românticos que romanceiam tudo o que vivem. A maneira deles formularem pensamentos é mais ou menos a seguinte: tudo vai sair como eu imagino, nada diferente, tudo perfeito e agradável.
-Então, te encontro aonde? - ele perguntou.
-Faz assim: sai do trabalho, vai pra sua casa e me liga.
"EIA!"
-Tá bom. Beijo!
-...tchau.
   Com essa bofetada nas ideias, Januário continuou com os seus afazeres até que chegou o horário esperado por todos os que trabalham nesse mundo, o horário de almoço.
É escusado dizer que, ontem, antes de deitar-se, Januário abriu as portas do seu guardar-roupas e escolheu sua pólo mais nova, a calça mais limpa e mais bem ajustada, a cueca mais confortável e separou o seu único e fiel perfume, o qual Olga adorava.
Olga e Januário são um casal lindo. Lindo na aparência, espetacular na cama e completo nos sentimentos. Sempre se agilizam de maneira que sobre tempo para encontrarem-se. Dificilmente discutem,sabem conversar sobre tudo e sobre si próprios. Amam-se.
   Foi num desses comuns frenesis que ontem combinaram o almoço.
   Januário mora perto do serviço. Logo chegou em casa, ligou para Olga.
-Oi. Já saiu da Universidade?
- Já to saindo...
-Então quando chegar perto daqui de casa me dê um toque que eu desço.
-Ta
-...beijo.
-...
   Enquanto espera o toque, em seu quarto, Januário lê mais um romance.
   O toque é dado. Ele desce, procura por ela. Eles se desencontram. Muitos outros toques são dados por ambos os lados, mensagens enviadas e voltas dadas. Burrice dele! No desespero de olhar logo para a pessoa de Olga, satisfazer uma de suas vontades, se atrapalhou todo! Saiu correndo de casa pela rua errada e com o coração tomando a frente das pernas.
Depois de algum tempo procurando, finalmente se encontram. Ambos sorriem da patuscada, beijam-se o olá e começam a caminhar. Ele rompe o silêncio:
-To pensando em comer la no Babuska. Lembra que lá é bom? Já fomos comer lá com o Homero.
-Nem lembro...
-Como não? Foi no dia em que vocês foram para a caverna.
- Ah é!...
   O coração que pertencia a ambos, mas se encontrava no peito de Januário, deu um nó. As ideias então nem se fala.
   Entraram no consenso sobre onde comer e foram. Durante o almoço, tudo bem. Alguns risos, conversa jogada fora, carícias simpáticas. Nada disso enganava Januário, ele conhecia Olga bem até demais.
Dividiram a conta e saíram. Januário, sagaz como sempre, logo pensou onde levar Olga para fazê-la falar o que realmente estava acontecendo, saber o porquê da frieza de tratamento. A sacada perfeita foi levá-la ao parquinho da praça central, local que ela já havia confessado que pretendia voltar com ele e que, todas as vezes que iam lá, saiam mais animados com a relação.
   Januário começou a ficar com medo de dar um tiro no pé. Leva-la lá para escutar o que não queria. Mas possibilidades como essas sempre são rechaçadas pelo instinto débil dos românticos. Querendo chegar aonde queria chegar, Januário começa:
-Tô meio cansado.
-Eu também.
-Daqui a pouco tenho que voltar pro serviço.
   Ele da um beijo sutil nela. Ela sorri de maneira distante. Se roendo por dentro, ele não resiste aos impulsos e pergunta:
-Você tá bem? Tá acontecendo alguma coisa?
-Sei lá, to meio distante.
-Pois é to vendo.
-Você entrou no Facebook quando passou pela sua casa?
-Nem entrei. Por que?
-Porque eu escrevi la: "Não quero almoçar junto hoje".




sábado, 5 de maio de 2012

Tá custoso beber legal.

Porra. Foi uma noite de merda. Tinha tudo para ser, e foi. Na verdade, a merda foi o pós-noite. Discussão de relações, desculpas, perguntas e respostas. A cabeça tão pesada, tão arrependida por, pela enésima vez fazer o papel de bobo da corte.

Há muito tempo o porre não foi tão onírico. No fim se tornou um pesadelo, uma desculpa para cagadas e insensibilidades. "Embriaguez sagrada, te afirmamos método". É uma bela frase. Quando colocada em prática, não difere muito de uma roleta russa, onde a bala é a emoção e o cano são as palavras. O problema da embriaguez se tornar um método, é que ela vai perdendo todo o seu poder de "baratinar" a vidinha normal, o dia-a-dia baseado nos métodos.  É algo que vai perdendo o brilho, o tesão e o motivo.

Eu estou ficando velho. Sinto isso muito bem. E os velhos quando bebem ficam chatos. Eles ficam dependentes e não se ligam que ninguém tem a obrigação de ficar convivendo com as suas rabugices, e suas bundas peludas. É nesse sentido que as paredes do meu quarto estão presenciando as injustiças de um babaca. Bebo e fico podre, maltratando quem tanto gosta de mim, e que eu gosto tanto. Fico dependente e mal educado. Fico velho chato.

Aí, pela enésima vez, sem erro ou exceção, o astro rei me acorda socando a cara e dizendo: " Ei, mané. Você cagou o pau ontem, haha. Acorda aí e se preocupa um pouco, tenta limpar um pouco as merdas que estão escorrendo das suas pernas."

Sinto falta dos meus porres em casa. Sozinho, sem ninguém ter que ficar me aguentando cara a cara. Parecia que não se ficava velho. Justamente o contrário. A casa me renovando, enquanto que as festas, o povo e os relacionamentos me devorando.

Concluindo. Os porres não são mais como antigamente. Eu também não.


sábado, 21 de abril de 2012

Voltando firme.

Já estava fazendo falta. A adrenalina pulsando no antebraço e nos dedos, à medida que os falantes gritavam o que era captado. O palco é uma coisa viciante. Em cerca de uma hora é possível ir do céu ao inferno. É se imaginar grande, melhor, acima de tudo e todos.

Vale toda a correria envolvida, as discordâncias e os erros. Os ensaios cansativos, as mães desconfiadas, as pernas cansadas e o amplificador estatelado na calçada. Amadorismo! O amadorismo é uma situação que só se torna prazerosa e possível por causa da amizade e parcerias. Gambiarras, tomadas e cabos. Mulheres subindo no palco e um copo cheio de vodca em cima do seu amplificador.

Onde nós tocamos fazia um eco do caralho. O som estava ruim, nós erramos algumas vezes. Enfim, foi uma balbúrdia embaladora de porres. Por isso que fomos bem sucedidos. Um dos objetivos do rock foi cumprido, que é o da porraloucura. Dioniso ficou feliz.

A banda estava com uma química legal. O Akilez, a energia dele no palco, pelo menos a que ele transmite para os outros músicos, é muito forte. Fiquei com a impressão de que em um lugar melhor, com uma estrutura e preparação melhores, podemos fazer uma puta apresentação.

Ontem foi bom, a perspectiva é melhorar bastante. E eu tô querendo mais.


quinta-feira, 12 de abril de 2012

O aumento.

Agora pouco ganhei dois cigarros. Vocês não fazem ideia de como isso se tornou uma atitude admirável. Dar cigarros. Eu sempre dizia que a carteira de cigarros deveria vir com vinte e um cigarros, porque sempre alguém te pede um. Quem não fuma não sabe dos sentimentos e reações que envolvem tudo isso.

O cigarro que eu fumava subiu para cerca de sete reais. Só não fui ver ainda o preço certo porque tive medo. Porra, isso é uma afronta! Ser privado de algo que me faz bem. Faz bem sim! O cigarro faz mal pra quem não fuma, aqueles enxeridos que regulam a sua vida. Se eu fumo é porque me faz bem.

Já não bastava essa merda de restrição de lugares para fumar? Agora a restrição é não poder pagar. É, hoje em dia está mais fácil assaltar um caixa eletrônico do que fumar um cigarro.

Tenho esperanças que foi apenas uma jogada errada, um equívoco que logo vai ser consertado. Afinal, a industria do tabaco ainda movimenta seus bilhões, e não é de interesse de ninguém deles que as pessoas parem de fumar. A restrição foi muito grande, a caída nas vendas também será, mas não para o contrabando.

Eu poderia até entrar nos assuntos de impostos e soluções e
 maconha, mas não me apetece. O lance é que machucou profundamente o meu ser, o meu jeitão, e os companheiros de bituca. Já ando numa pindaíba do caralho, nervoso, tenso, precisando do cigarro, mas querem me cobrar sete reais. E nos boêmios momentos também. Fumar um cigarro depois do sexo, depois de comer, tomando uma cerveja ou seja lá qual for a situação que te agrada. É algo que não nos deveria ser privado.

Nem minha namorada, que volta e meia dá uma reclamada do cigarro, vai ficar feliz com esse aumento. Quero ver ela aguentar o rabugento aqui vociferando pelos cantos.

E aí eles falam que não é privação, que o cigarro ainda está la para comprarmos. Porra, se isso não é privação é o que? Comprando uma carteira por dia, no mês, chutando bem baixo, isso vai resultar num aumento de cento e cinquenta reais por mês.

Sinto que levantei a bandeira do tabagismo nesse texto, mas não é isso que eu quis mostrar. É algo que está quase infringindo o direito de ir e vir, e isso deve ser combatido e repudiado.

quinta-feira, 29 de março de 2012

A velha história

   Investimentos para o futuro. Ter uma casa para viver a velhice, viver a energia que nos resta. Geralmente é esse o único sentido que os pais dão para um filho se entregar à labuta. Se não é esse, um dos mais comentados é a obsoleta dignidade. Obsoleta nos dias de hoje, principalmente se tratando do sentido considerado pelos nossos patriarcas. E assim, com esse sentindo bem vago, difícil de ser entendido por boa parte da juventude atual, nossos pais e conselheiros mais velhos nos confundem e inibem cada vez mais os nossos instintos de procurar a felicidade.
   Provavelmente é alguma frustração seguida de consolo. Frustração por, na época de juventude deles, não conseguiram correr atrás das suas vontades e realiza-las. Respeito incondicional aos que venceram. Naquela época era tarefa árdua. Se hoje já é, imagina vivendo em cidades completamente conservadoras, semi-rurais, onde a pesada mão da igreja e a falta de cultura dos pais imperavam. Sem falar nas oportunidades. Hoje essas são bem diversificadas, podem atender a todos os gostos, tanto financeiro como emocional. Daí vem a frustração. E o consolo, fácil dizer qual é. O consolo é o próprio sentido que eles usam nas explicações mirabolantes e incentivos paupérrimos que nos fazem ouvir: a sonhada estabilidade financeira, a casa própria, o churrascão no final de semana que vai ser bem comentado pela vizinhança, as bundas no sofá vendo a telinha esquentando.
   Quando eu vejo pais incentivando os filhos - veja bem, incentivando, não dando conselhos erráticos e pernetas - eu tenho vontade de aplaudir. Também por carência que sinto disso. Incentivar os filhos a correr atrás do que acredita não quer dizer: "Vai lá filhão, se fode aí! Qualquer coisa eu to aqui." Incentivar é dar suporte, neste caso, principalmente o emocional - o financeiro também é imprescindível. É muito mais fácil você acabar se tornando bem sucedido em algo que aprecia, que faz com gosto e abnegação, do que apenas cumprir tarefas bem remuneradas, sem saber o porquê, o pra quê e principalmente sem gostar. É mais importante se sentir bem sucedido do que ser bem sucedido para quem quer isso de você.
   O mundo hoje oferece muitas oportunidades para quem corre atrás do que quer. As vezes um empurrãozinho paternal pode criar uma pessoa que se sente a mais feliz do mundo, mas o receio e a ideia conservadora, de querer criar um filho para si e não para o mundo, geralmente repetem a história na íntegra:
frustração e consolo.
 

sexta-feira, 23 de março de 2012

Pornografia antiga

Quem bate punheta hoje e não batia há vinte anos atrás, dificilmente vai ter uma ereção vendo um pornô das antigas. Hoje, o que chamamos de vídeos de sexo explícito, parecem mais uma aula de anatomia humana para quem etá cursando doutorado em alguma área da ginecologia.
Me peguei assistindo alguns pornôs bem velhos, do século passado - estimo que eram de 1975 - , enquanto escrevia umas bobagens. Parando para reparar, percebe-se a inocência na obscenidade. E olha que era uma cena lésbica! Cena de bom gosto, com mulheres de verdade, gestos e gemidos instintivos, naturais. Peitos naturais, sutis! Quem nasceu neste século provavelmente nunca bateu uma pra uma mulher com peito natural.
Aí está o meu medo! O que as crianças entendem hoje como proibido, como sexo e como prazer? No pornô que assisti, a história se passava em uma fazenda onde as garotas fugiam pro mato para realizar um desejo movido por um sentimento legal, natural. Agora os pornôs nem história têm - e quanto tem a gente pula - e já começam com sexo brutal, deselegante e com personagens mais artificiais do que pipoteca de pizza.
Imaginem um garoto de onze anos. Não sabe nem pegar no pinto, mas navega na internet com a destreza de Neymar com a pelota. Um gordinho de prédio fuçando sites pornôs e se espantando quando vê uma vagina com pelos ou um peito em tamanhos normais.
Coitada dessa geração de broxinhas. Vão perder as melhores partes e recompensas do jogo sexual. Vão achar que é só chegar comendo.
Tomara que as meninas dessa idade, na hora de dar, não deem. Não pra esses aprendizes de máquinas. Tomara que ainda existam galanteadores. Tomara que a inocência seja divertida e a obscenidade...um pouco mais humanizada.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Eu vou torcer.

Existem prazeres que exigem certa sutileza na execução da ação, só assim pode-se aproveitar e encontrar o que realmente se procura. Ultimamente tenho frequentado alguns bares aqui onde moro. Geralmente vou com a minha namorada, sempre para beber e jogar bilhar. Ela é uma ótima adversária. Às vezes eu fumo meu cigarro e, quando dou muita sorte, consigo curtir uma música legal.
Há um tempo atrás, eu andava desacreditado, assim como os bares, pra mim. Faltava o entusiasmo para sair de casa e ir até o bar. E o bar não fazia nada por isso. E isso incomodava.
É parecido com o futebol. Você, assim como eu, adorador do futebol, que assitia o Ronaldo Gaúcho acabando com os jogos, arrepiando as zagas e os torcedores, e sempre atendendo às expectativas de quem parava para curtir o seu jogo. E hoje tem que ver um cara desacreditado, sem vontade e perspectivas.
O tempo passa e o foco muda. Hoje já temos Messi, Cristiano e Neymar. Hoje eu vou procurar outras coisas no bar. Ou nada. Sentar, tomar a cerveja, jogar conversa fora, encontrar pessoas chatas, mulheres feias, jogar bilhar, assistir o futebol, pessoas legais, fumar, rir, comprar mais fichas, reclamar e beber. Esse é o protocolo.
Não tem erro, é por isso que hoje pouco me decepciono. Sempre que ia esperando porres fantásticos, roteiros hollywoodianos e um oásis para a vida cotidiana, nada disso sequer chegava perto de acontecer.
Sutilezas e coisas corriqueiras, assim como ficar feliz por voltar a frequentar uma sala de aula, gastar vinte reais em algo muito útil, beijar boa noite na sua mulher.
Até os bares que eram frequentados pelos nossos mestres da literatura junkie, beat e até mesmo os mais românticos, exalavam uma essência de imperfeição. Ou eram a pura imperfeição. Mas os velhos cães sempre estavam lá, reclamando e bebendo.
Hoje é possível frequentar um bar. É só mudar o foco. Deixar de olhar pro lado, procurando algo que não existe, procurando cenas que se passam nas dashboards dos Tumblrs da vida.
Hoje eu torço pela alegria, pela namorada, pelos sorrisos, pela nega na sinuca, pela fumaça e pelas sutilezas.

Uma pena.

A gente torce, se interessa, acompanha e às vezes até se envolve com certa paixão em alguns assuntos públicos. Podem surgir discursos veementes, teorias eficientes e até mesmo concordância de opiniões. Mas o que eu quero atentar é que alguns costumes, nunca mudam, por mais que se desenvolvam meios corretos para se atingirem os fins desejados.
Hoje (12/03/2012) quando eu vinha para o trabalho, resolvi pegar o ônibus no terminal central, e por isso passei pelo nosso querido e difamado Calçadão da Coronel Cláudio. O Calçadão é um dos lugares mais conhecidos da cidade, se não for o mais conhecido. Sempre muito movimentado, com seus vendedores de DVDs, filas para pagamentos, loucos berrando, trabalhadores e cidadãos. As pessoas costumam comentar sobre o aspecto do lugar, e o que mais se ouve é: sujeira. A falta de segurança vem em segundo lugar.
A solução para a sujeira, muitos diriam, é simples. Coloca-se lixeiras em cada quadra e o problema está resolvido. Pois é. Deveria estar resolvido, pois as lixeiras foram colocadas em boa quantidade, em locais bons, e também eram boas as lixeiras (ao contrario de umas que estavam surgindo, que eram apenas um aro onde se pendurava um saco de lixo de maneira ridícula). Pelas minhas contas, meio por cima, em toda a extensão do calçadão foram colocadas umas 50 lixeiras. É sério, cinquenta! E hoje se encontram lá apenas duas ou três. Também é sério! Todas as outras quarenta e sete foram queimadas, arrancadas, chutadas, roubadas e alvo de todo tipo de vandalismo.
Já era de se esperar. Já passaram pelo calçadão depois das 23h? O calçadão está abandonado, abrindo o espaço de uma madrugada inteira para que sejam cometidos atos como estes. Faltou um certo planejamento, pois era algo quase certo que mais cedo ou mais tarde isso iria acontecer. E mais do que planejamento, falta
educação.
A atitude tomada em relação à sujeira, foi ótima. O problema que persiste em várias situações parecidas é o velho costume primitivo, atitude grotesca e repugnante que, alguma pequena parcela da população sempre coloca em prática quando oportunidades aparecem. O maldito vandalismo.
Acho que é a vontade de se sentir poderoso, já que usando de meios justos e louváveis nunca obterão algum resultado satisfatório enquanto a mentalidade seguir essa linha de ação. Alguns desses atos podem ser sanados colocando alguma vigilância nos horários propícios, algum tipo de monitoramento eletrônico (só não vale aquelas câmeras com resolução tão limitada que é impossível distinguir um ser humano de uma girafa). Mas o verdadeiro buraco é mais em baixo. Envolve cultura, instrução e principalmente educação.