sábado, 19 de maio de 2012

Crentices populares.

    A hipocrisia. Palavra batida, usada em demasia para substituir o ditado "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço".  Hoje o uso exagerado dela tem se feito necessário com a proliferação dos que  chamamos de "crentes" (sim, os evangélicos dos dízimos em nome do senhor Jeová aleluia). O ditado já citado pode muito bem ser adaptado para condizer com a conduta dessa galera chata que anda por aí. Eu sou bem capaz de dar uma ideia para a adequação do ditado. Aí vai uma: "Faça o que o meu pastor diz, mas não do jeito que eu faço" ou "Faça o que a bíblia diz, mas só o que é cômodo e traz benefícios".
    O meu local de trabalho está infestado desses seres que impressionam. Não raramente me sinto acoado em algumas situações que sou obrigado a presenciar. A facilidade em contar fatos da vida alheia, pisar em cima dos sentimentos (sempre jogando a cruz na cara) e logo depois usar como exemplo a "irmã" da congregação que vive fofocando o que se passa nas "células" é absurda! E eu me lembro bem que existem várias passagens bíblicas que exortam os "irmãos" sobre fofocas, intrigas e afins.
    E como reclamam, Senhor amado! Criam a maior teta de todas, que, segundo afirmam, é capaz de suprir todas as necessidades e ampará-los nas maiores dificuldades, mas nunca estão satisfeitos. Mas também não fazem nada para sair da situação em que estão. O crente que não crê em porra nenhuma do que prega. Repete o que escuta e quer que nós, que não temos nada com isso, sejamos castigados ouvindo os seus louvores e pregações que não têm nada de interessante ou edificante.
    Lascívia rolando solta no meio de mulheres casadas, que já são mães ou "líderes de célula". Certo dia um funcionário novo (que não sou eu) teve que trocar de camiseta e teve a barriga "definida" comentada pelo resto da semana. As mulheres faziam fila para ver ele trocar de camiseta. Cheguei a ver algumas delas quase implorando para que ele mostrasse. Eu nunca falo nada, sempre saio de fininho, afinal, meu ouvido não é penico.Sem falar que enquanto almoçam colocam os seus louvores para tocar a ponto de quase estourarem os auto-falantes do celular. E da-lhe tentar roubar a posição da outra na "escala pureza perante Cristo".
    Acho que não é necessário falar que isso tudo é uma baita falta de respeito com quem não compartilha do mesmo "crente lifestyle", mas é necessário ressaltar que a falta de respeito maior é de cada um com si. É aí que eu me delicio. Meu sadismo explode e, de incômoda a cena passa a ser cômica.

 

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Consequências de romances.

   No dia de ontem, Olga afirmou categoricamente que queria almoçar com Januário. Recebendo uma notícia dessas, Januário logo pegou no ar que Olga estava naqueles dias. Não naqueles, mas em outros, mais dengosos e sedentos. Dias de paixonite.
   Aproveitaram a paixonite, mostraram como nunca que eram um casal legal e fogoso, beijaram boa noite e cada um para o seu covil. O dela familiar, o dele escolar.
   Na outra manhã, como de praxe, Januário acordou. Se preparou para ir à labuta, sempre meio pesaroso pelas situações envolvidas, pelas dívidas divididas e pelas expectativas deste dia de vida. Uma dessas expectativas era o almoço. Afinal, para enamorados que se querem tanto próximos quanto possível, um almoço não cairia nada, mas nada mal. Sem falar que, com a correria dos tempos modernos, a necessidade de se preencher os cadernos e os bolsos, a cabeça e a estima dos pais, também preenche o nosso tempo de maneira inadequada, nunca dando espaços pros dois encontrarem-se. Era óbvio que Januário ia abraçar essa oportunidade de almoçar um almoço ordinário com Olga como desculpa para as vias de fato.Vias de fato limitadas pelo possível, claro.
   No trabalho, nada de novo. Nas expectativas também não. Januário contava o tempo de maneira paranoica, sempre calculando quantos beijos seriam possíveis em tal intervalo, levando em conta o que iam almoçar, se era um xis-treco ou um P.F no R.U. Volta e meia pensava também na melhor maneira de dizer que a amava e que pensava nela o dia todo. Melosidades necessárias, mas espontâneas.
   Em um desses momentos que Olga tomava rédea dos seus pensamentos, em pleno horário de trabalho, decidiu entrar em contato com ela para combinar a certeza do rango.
   Com os dedos discou os seguintes números: (xy)-xxyy-zzxx... tuuuu tuuuuu...ela atende rapidamente:
-Oi. Diga.
"Nossa, que merda de oi, que merda de receptividade. Não há de ser nada!"
-E ai, minha bonitona! Onde você está?
- To na Universidade...
-Vamos almoçar, né? Como faremos?
-Você tem certeza que quer almoçar junto? - ela retrucou.
"Que porra é essa? Já não estava certo que íamos almoçar, caralho?"
-Ué, meu. Eu quero, claro. A gente não combinou ontem?
-É eu sei...
- Então vamos, não?
-... ... ... ... é, dá pra ir.
"Porra, que desânimo! Ela não deve estar muito bem."
   Essas possibilidades sempre tocaram forte os pensamentos de Januário. Como as expectativas do almoço ainda não haviam passado, apenas balançaram, ele preferiu seguir a linha de raciocínio romântica, geralmente usada pelos românticos que romanceiam tudo o que vivem. A maneira deles formularem pensamentos é mais ou menos a seguinte: tudo vai sair como eu imagino, nada diferente, tudo perfeito e agradável.
-Então, te encontro aonde? - ele perguntou.
-Faz assim: sai do trabalho, vai pra sua casa e me liga.
"EIA!"
-Tá bom. Beijo!
-...tchau.
   Com essa bofetada nas ideias, Januário continuou com os seus afazeres até que chegou o horário esperado por todos os que trabalham nesse mundo, o horário de almoço.
É escusado dizer que, ontem, antes de deitar-se, Januário abriu as portas do seu guardar-roupas e escolheu sua pólo mais nova, a calça mais limpa e mais bem ajustada, a cueca mais confortável e separou o seu único e fiel perfume, o qual Olga adorava.
Olga e Januário são um casal lindo. Lindo na aparência, espetacular na cama e completo nos sentimentos. Sempre se agilizam de maneira que sobre tempo para encontrarem-se. Dificilmente discutem,sabem conversar sobre tudo e sobre si próprios. Amam-se.
   Foi num desses comuns frenesis que ontem combinaram o almoço.
   Januário mora perto do serviço. Logo chegou em casa, ligou para Olga.
-Oi. Já saiu da Universidade?
- Já to saindo...
-Então quando chegar perto daqui de casa me dê um toque que eu desço.
-Ta
-...beijo.
-...
   Enquanto espera o toque, em seu quarto, Januário lê mais um romance.
   O toque é dado. Ele desce, procura por ela. Eles se desencontram. Muitos outros toques são dados por ambos os lados, mensagens enviadas e voltas dadas. Burrice dele! No desespero de olhar logo para a pessoa de Olga, satisfazer uma de suas vontades, se atrapalhou todo! Saiu correndo de casa pela rua errada e com o coração tomando a frente das pernas.
Depois de algum tempo procurando, finalmente se encontram. Ambos sorriem da patuscada, beijam-se o olá e começam a caminhar. Ele rompe o silêncio:
-To pensando em comer la no Babuska. Lembra que lá é bom? Já fomos comer lá com o Homero.
-Nem lembro...
-Como não? Foi no dia em que vocês foram para a caverna.
- Ah é!...
   O coração que pertencia a ambos, mas se encontrava no peito de Januário, deu um nó. As ideias então nem se fala.
   Entraram no consenso sobre onde comer e foram. Durante o almoço, tudo bem. Alguns risos, conversa jogada fora, carícias simpáticas. Nada disso enganava Januário, ele conhecia Olga bem até demais.
Dividiram a conta e saíram. Januário, sagaz como sempre, logo pensou onde levar Olga para fazê-la falar o que realmente estava acontecendo, saber o porquê da frieza de tratamento. A sacada perfeita foi levá-la ao parquinho da praça central, local que ela já havia confessado que pretendia voltar com ele e que, todas as vezes que iam lá, saiam mais animados com a relação.
   Januário começou a ficar com medo de dar um tiro no pé. Leva-la lá para escutar o que não queria. Mas possibilidades como essas sempre são rechaçadas pelo instinto débil dos românticos. Querendo chegar aonde queria chegar, Januário começa:
-Tô meio cansado.
-Eu também.
-Daqui a pouco tenho que voltar pro serviço.
   Ele da um beijo sutil nela. Ela sorri de maneira distante. Se roendo por dentro, ele não resiste aos impulsos e pergunta:
-Você tá bem? Tá acontecendo alguma coisa?
-Sei lá, to meio distante.
-Pois é to vendo.
-Você entrou no Facebook quando passou pela sua casa?
-Nem entrei. Por que?
-Porque eu escrevi la: "Não quero almoçar junto hoje".




sábado, 5 de maio de 2012

Tá custoso beber legal.

Porra. Foi uma noite de merda. Tinha tudo para ser, e foi. Na verdade, a merda foi o pós-noite. Discussão de relações, desculpas, perguntas e respostas. A cabeça tão pesada, tão arrependida por, pela enésima vez fazer o papel de bobo da corte.

Há muito tempo o porre não foi tão onírico. No fim se tornou um pesadelo, uma desculpa para cagadas e insensibilidades. "Embriaguez sagrada, te afirmamos método". É uma bela frase. Quando colocada em prática, não difere muito de uma roleta russa, onde a bala é a emoção e o cano são as palavras. O problema da embriaguez se tornar um método, é que ela vai perdendo todo o seu poder de "baratinar" a vidinha normal, o dia-a-dia baseado nos métodos.  É algo que vai perdendo o brilho, o tesão e o motivo.

Eu estou ficando velho. Sinto isso muito bem. E os velhos quando bebem ficam chatos. Eles ficam dependentes e não se ligam que ninguém tem a obrigação de ficar convivendo com as suas rabugices, e suas bundas peludas. É nesse sentido que as paredes do meu quarto estão presenciando as injustiças de um babaca. Bebo e fico podre, maltratando quem tanto gosta de mim, e que eu gosto tanto. Fico dependente e mal educado. Fico velho chato.

Aí, pela enésima vez, sem erro ou exceção, o astro rei me acorda socando a cara e dizendo: " Ei, mané. Você cagou o pau ontem, haha. Acorda aí e se preocupa um pouco, tenta limpar um pouco as merdas que estão escorrendo das suas pernas."

Sinto falta dos meus porres em casa. Sozinho, sem ninguém ter que ficar me aguentando cara a cara. Parecia que não se ficava velho. Justamente o contrário. A casa me renovando, enquanto que as festas, o povo e os relacionamentos me devorando.

Concluindo. Os porres não são mais como antigamente. Eu também não.