segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

brisa

me chamem de piazoto, piazinho, trombadinha, skatista, malandro. me chamem do que quiser. o que importa é a vida que eu levo. tenho treze anos e meu veículo é uma caloi brisa. Por sinal é ela que não me deixa faltar nenhuma. brisa é o que não me falta. vida mambembe é assim, é a brisa que eu procuro. graças a deus nasci numa casa pobre, de gente pobre e me criei pobre. a unica coisa que sei fazer é tirar brisa. é verdade que ando com gente que, a tal sociedade correta, não gosta muito. mas pra mim, sou mais rico do que qualquer um.

é claro. não é preciso ser esperto pra saber que riqueza é uma coisa que não faz bem pra todo mundo. eu me dou bem sem riqueza. coloco o meu carrinho pindurado na brisa e vou pro centro. vou la pra tirar umas piras com a gente grande. nada de dono, nada de chefe, pra mim gente grande é o japão e o bang, os caras que mandam mais na pista do ambiental. tem outros também. e mesmo sem chefe tem os patrão.

pequenininho, magrelo e sem camisa. é assim que eu encosto a minha bike na mureta e logo entro pra pista.
dai tento as minhas, um flip, alguma de varial, um olliezão por cima de qualquer coisa. isso é o que eu sei fazer. sair da minha cama, pegar minha bike, vir pro centro, skate na bike, chego aqui e fico tentando. se não acerto, na real, não da nada. sou mais novo. tiro uma pira sem ninguém achar ruim. piazinho assim. loquiando desse jeito, a rapeize acha engraçado, até bacana.

esses dias cheguei no ambiental e tinha uns maluco diferente na pista. não andando. os cara nem carrinho tinham. achei engraçado. vem pagando de folgado na cena que ja é nossa. malucão chegou ali, sentou de boa, e ficou. ja tava meio bêbado, fez a intera com os irmão que eu conheço e foi comprar mais uma. achei estranho. porra, qual é a do filho da puta chegar na nossa e já ir comprar uma cerveja com intera dos outros?

pior que o piazão era gente boa. trouxe a breja, deu até um gole pra mim. eu sempre tomo uns gole de breja ali., mas porra, de um malucão desconhecido? e o pior é que era desconhecido pra mim. se fosse da galera ainda tinha algo pra eu achar cabreiro, mas não. o cara já chegou conversando com o bang, com o japão, margarina... fiquei de cara.

piazão sabia onde tava. e como não era nenhum zé ninguém, cheguei junto ver qual'era. hahahahha. surpresa. piazão mó loco. bebaco já. diz ele que já tinha tomado não sei quantas hoje e mais uns chope no canto de bacana ali do shopping, e dai ficou aqui vendo a galera dar um rolê. achei da hora.

eu sou pia né, acho massa quando chega uns caras assim e botam moral, parecem mais velhos, com grana, bem loucos, mas sabem o que tão fazendo. eu também quero uma vida assim. só brisando, bebendo e fumando.

me flagrei que ele queria fumar um. tava bebado, falando com o neguinho, que nem conhecia, e com o cavera, que parecia que ja conhecia. porra. até eles o cara conversa. alem disso troca ideia com o japao e com o bang. vai se foder. eu aqui piazoto tentando tirar uma brisa cos dinossauro e o cara chega do nada e ja tira a dele. esse deve ser das anta.
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eu cheguei no parque humilde. conhecia uns, conhecia outros, mas nenhum dos meus conhecidos estavam ali. então apenas fiquei, absorto, vendo o pessoal andar. a piazada que tá andando hoje em dia já anda muito melhor do que eu andava. ipod no aleatório, cerveja sendo carregada de quando em quando. cena perfeita. além do mais tava sol. cerveja, skate e sol. o baseado ficou de manhã mas ainda perdura.

eu não ando de skate, mas sou aficionado pelo esporte. a piazada de pg ta andando demais.e neste dia especifico eu era um voyeur naturalista.

cara, ja tava muito louco, ja tinha até falado com o bang e o japão, coisa respeitável que eu achei que jamais faria. porra, os caras são mitos, e na época que eu andei com eles, eu nada mais era do que um zé ro-a-esquerda do skate.

tava ali ja fazia horas, tirando ideia com quem eu mal conhecia. maluquinho ficou me rodeando um tempão. devia ter uns 12 ou 13 anos. tava sem camisa. viu que eu tinha me dado bem com o resto da galera. começou a chegar perto, se engraçar. eu achei engraçado, sou simpático. além do mais, muleque daquele tamaínho ali é comédia, haha. comecei trocar ideia e logo me pediu uma cerveja.um gole né. viu que eu tinha comprado 2 kaiser e tinha dado uma pro neguinho. dai pensei que seria legal fornecer alegria pra um menor.

e foi. piazinho ficou na minha, gostou de mim. percebi que ele queria pirar. coisa que eu também queria. e aí? baseado ali uma galera tem, mas bem na hora que eu e o muleque procuramos, o japão e o bang tinham dado um perdido na galera. tipo ninja mesmo. nem me viu nem me vê.

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piá, to afim de pita uma.
haha
sabe quem ta mandando aí?
sei, né
japão e bang tão fora daqui. são eles?
é, né
sabe onde eles tão?
aham.
vamo aí?
vamo. só seguir a brisa.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Fotografia da Virada Cultural



Perdi o primeiro dia da primeira Virada Cultural que a nossa cidade recebeu. Na verdade nem senti muita falta, a não ser quando meus amigos contavam a loucura que foi. Uns me disseram que a chuva não atrapalhou a baderna do ronquenrrou na frente do palco. Já meu colega de apê, coitado, chegou em casa gripadão. Ele e a namorada. Contou que no meio do toró e da balbúrdia chegaram a jogar o resto do gelo da caixa térmica na galera, e ninguém se importou. E olha que a caixa escapou da mão dele e foi parar na cabeça de um desconhecido de porte atlético descomunal e cara de bulldog. Eu não estava lá, mas não contesto a história. Conheço os amigos que tenho.
No domingo eu fui. Fui com a patroa. Mas, no afã de querer fazer boas fotos, chegamos cedo demais. E o verão ponta-grossense não perdoa. Sei que ainda é primavera, mas aqui quando sai sol, sempre gosto de pensar que é verão. Então ficamos lá, sem nada pra fazer, já que as atrações da tarde não atraiam. Andamos tanto que até conheci o Parque Ambiental mais uma vez. Também conheci os novos skatistas, os sorveteiros, os novos punks das velhas tribos que ficam ali no terminal. Até que numa dessas voltas pra espantar a falta de assunto, encontramos dois amigos. Bons amigos. E no calor os bons amigos sempre sugerem uma cerveja. Esses meus amigos são tão bons que até nos recordes do inverno chegam aqui em casa, sem mais nem menos, com a bebida.
Descobrimos o caminho do BIG. Lá tem um quiosque com garrafas retornáveis que saem muito barato. Era preferível fazer o caminho ambiental-BIG diversas vezes do que pagar quarto reais a lata. É pelo preço da bebida que se descobre o tamanho da cidade. PG é média, mas quer se fazer de grande prematuramente. Cidade estabanada.
Com as cervejas, escolhemos um lugar para formar a nossa “rodinha”. Não muito longe do palco, mas mais longe do que perto. É que, independentemente do artista que toca, aqui a frente do palco sempre é reservada aos bêbados dançarinos e cantores. Não que ao final da noite estes estejam todos lá. Ao final da noite eles já estão por toda parte.
Como estava bebendo, voltei a fumar. É, voltei. E não tive vergonha. Quando eu quiser parar de novo eu paro, até porque é fácil. Eu já parei de fumar umas 20 vezes. Mas não é isso o que importa. O que importa é quem aparece para lhe dar esse lazarento desse cigarro. No meu caso foi uma grande amiga, enviada por deus, direto da capital. Grande pequeniníssima amiga. Juntou-se a nossa roda, e como bons ponta-grossenses, logo ficamos sem papo. O negócio foi voltar ao grande BIG. E depois voltar ao ambiental, ver como o povo se comportaria na primeira Virada Cultural.
Desajeitados. Eram muitos os tipos estranhos, muitos que queriam transparecer uma imagem de acostumados com tudo aquilo, com um domingo no parque, escutando vários estilos de música e confraternizando. Mas era tudo novo. Sem falar que ponta-grossense não confraterniza, se envolve com estranhos de maneira estranha. Pra mim era tudo muito estranho. Não é como nas cidades mais nortistas, onde a promiscuidade não incomoda o cidadão nesse tipo de acontecimento. Aqui todo mundo parecia meio ressabiado. Eram shows. Em show se dança, grita, pula, faz baderna, assiste ao show. Aqui era um lá no fundo arriscando uns passinhos, outro em baixo de uma estrutura fingindo que sabia a letra, uma galera torcendo o nariz pra tudo, outros que nem sabiam o que se passava. Mas eu entendo. E apesar do pessimismo, sou otimista. Temos e vamos nos acostumar com esse tipo de coisa.
A Coisa não tocou, deveria. Mas ali, pelo menos entre os meus, todo mundo queria saber era da Cadillac. Que horas a Cadillac vai tocar? Essa era a pergunta. De noite. Essa era a resposta. E pra quem chega às três da tarde a noite não chega nunca. E pra quem tá sem um puto no bolso, um mísero puto que possa servir de intera em qualquer coisa que faça o tempo passar, parece que a noite só virá amanhã.
Mas veio em tempo. O Kianurrives também, pra pagar mais uma pra gente. Logo se enturmou – acredite quem quiser – e também perguntou pela Cadillac. Acho que o nome da música deveria mudar. Ao invés de Brand New Cadillac, ali tinha que se chamar Bring Me The Cadillac. E no meio de tudo isso, essa estranheza peculiar local, meus amigos, a cerveja, a música, a pobreza e a espera, eu fazia minhas fotos.
Quando eles subiram ao palco, eu já estava lá. Na frente. Disputando lugar com os seres que habitam essa região obscura, descriminada, mas desejada no íntimo de todos. Comigo não tem vez. Ou eu estou lá pra fazer as minhas fotos, ou porque...
Não é uma pena, mas desta vez eu fiz as fotos.



terça-feira, 15 de outubro de 2013

quando voce bebe muito e não tem religiao
deus só cria poblemas
um cigarro atras do outro nunca irá livrar uma cara
do cara
que já caneteou o ap
inteiro.

todos já lhe conhecem

por mais que
voce tenha namoradas gentes boas

nao adianta

seus amigos sempre vem colocar um som
no seu apê
enquento você
busca,
não minta,
você busca,
a glória.

Com emprego rolando
quem se importa com história ou as
maravilhosas estórias
que
eram
e ainda são
as melhores coisas pra prosear.

enfim.

vida bagunçada...


sábado, 30 de março de 2013

Conversa.

"Porra, mano, levei um sacode de uma banca ontem!" "Ade memo, loco!" "Aonde que foi a cena?" "Ali descendo o bar do Jango. Os mano chegaro na crocodilage memo, dando voadora nas minhas costa e chegaro nuns oito cara e me deram uma sova!" "Mas e daí? Por que que foi a cena?" "Não sei, loco. Os cara chegaram me levantando memo, só deu tempo de coloca a mão na cara e tenta saí correndo. Se pa é por causa da muié do Cleisso." "Fugiu daí?" " É, masomeno, estoraram meu nariz e minha boca, mas daí eu já pinei pra esquina e catei umas pedra e comecei a taca nos maluco." "Mas e agora vai cobra a cena ou vai dexa baxo?" "É mermão, isso aí não pode dexa baxo não! Ainda mais chegando na filhadaputage igual chegaro." "Cê tá loco que eu vo dexa baxo, jão. Ontem mesmo ja liguei pro Catito e informei da cena. O cara ja fico no veneno e ligo pro Cleisso pra ve o meu lado e ainda conseguiu descobri uns nome aí pra nois saí cobra." "O Catito é foda, mermão. Uma vez la na Palmerinha um maluco começo a apavora ele na frente do bar dai ele só pego o canhão pra resolve na hora!" "É ele falo que se eu quisé o canhão ta na mão." " E quando que vai saí cobra a cena?" "Eu não vo saí cobra nada. O Catito ta levantando uma banca pra cobra. O Pepeu, o Indio, Manuelzinho e mais uma renca de gente." "Mas e daí você vai fica aí e não vai empacota os cara?" "Aham, o Catito falo: 'ó véio, dexe que essa nois arranja pra você, porque você tem a tua menininha né, é melhor não fica se queimando aí'"

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Charles, que não sabia lidar com decisões contrárias.

Acordou cedo, de ressaca, mas convicto como nunca. Podemos confiar e se entregar numa convicção de ressaca? Não importa, Charles estava disposto a botar um ponto final na sua angústia. Foi dormir mordendo vingança, acordou mastigando vingança. Não iria digerir até que desse um fim em tudo aquilo.
Charles sabia que as armas mais apropriadas para efetuar uma vingança eram as brancas. Não que lhe faltassem em casa, mas assassinar a pessoa que mais amava no mundo, apenas era a ação mais rápida e impensada que deveria praticar, e o assassinato com uma dessas armas é para se apreciar, torturar, e degustar a vítima. É arte.

Charles preferiu a Glock. Arma simples que executaria rapidamente qualquer pessoa. Nada de sentimentos a mais. Nada de pensamentos a mais. Convicção. Era disparar, e a despedida ficaria para depois, em orações.

Ele saiu de casa, como sempre imponente, mas imponente como nunca. O sentimento de decisão convicta, em um homem elegante, pode gerar um Adônis nas calçadas de hoje. Com a arma na cintura, entrou no seu carro, deu a partida e seguiu ao seu destino. Não o destino geográfico, o outro, o da vida, o cósmico, o karma.

Estacionou o carro na esquina do edifício em que Carla residia. Ficava em uma periferia da cidade, com gente feia, sujeira e homens mal-encarados. Saiu do carro, andou até a frente do prédio, parou. Acendeu um cigarro. Ele sabia que ela estaria lá. Conhecia os seus hábitos há dois anos. Ela conhecia os seus pelo mesmo período. Nunca em sua vida havia compartilhado tantos sentimentos, vontades e palavras tão profundamente com uma mulher. Nunca havia tocado um corpo como tocava o dela. E ele sentia, sinceramente, que era recíproco. Acreditava que conhecia todos os hábitos, pensamentos e vontades dela. Até o dia em que descobriu que não sabia de tudo, e tomou o maior porre da vida para aplacar a dor.

Foi nesse dia que achou que um ser humano merecia perder a vida. E colocou sua vontade como ação no dia seguinte.

Entrou no prédio. Não encontrou barreiras. Nem porteiros, nem vigias, nem moradores. Subiu o elevador com as pernas tremendo. A primeira lágrima desceu na sua face logo que chegou ao oitavo andar. A porta abriu e ele, decidido, seguiu em frente sem haver se questionado uma só vez.

Tocou a campainha do 82. Tocou de novo - essa foi a primeira vez em que bambeou seus pensamentos e, por um triz, não voltou atrás - e começou a chorar compulsivamente. A porta abriu e Charles não esperou cumprimentos...

Entrou e sentou no sofá. Carla estava de camisola. Linda como sempre, como nunca mais ficaria. Assustou-se com o choro de Charles.

- Carla, você não vai entender, eu também não entendi, então, se... se realmente você não tem mais dúvidas, é melhor botar um fim nas minhas. Sinceramente achei que estava fazendo tudo o que era possível, pois realmente amava você como nunca achei que fosse amar criatura alguma na terra, mas se você pensa o contrário...

Charles levantou, tirou a Glock da cintura, Carla gritou que se acalmasse, mas não havia outro jeito. Ele meteu uma bala no seu próprio coração e morreu sem entender o que havia acontecido para ela pedir um tempo.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O Passado, Alan Pauls.

É um livro um pouco complicado, até mesmo pelo estilo ortográfico do autor, e tem um enredo fantástico e corriqueiro ao mesmo tempo. Quando comecei a ler, não vi muito sentido no título do livro, porém com o andamento da leitura é fácil perceber.

A história é de um cara (Rímini) e suas muitas paixões - ou devo dizer amores? - que parecem ter sido pautadas pelas fases da sua vida, mas que em momento algum deixou de receber a influência da sua primeira namorada (Sofía). Resquícios dessa primeira paixão, que foi avassaladora e durou mais de uma década, ficaram encrustados na personalidade e estilos de vida do personagem principal, desde a sua profissão, até sua maneira de responder. Rímini terminou com Sofía sem grandes motivos, o que a revoltou e também seus círculos familiares e de amizades. O relacionamento deles era tão sólido e admirado que chegava a ser tido como patrimônio da humanidade por quem os conhecia. Sofía nunca entendeu o rompimento, e Rímini também nunca conseguiu explicar. Envolto nesses fantasmas do passado, a história se passa dando a entender que Sofía ficou estagnada nas lembranças e não queria abrir mão de tudo o que os dois construíram juntos, e Rímini, por sua vez, também não conseguiu desvencilhar-se completamente - Sofía volta e meia o atormenta exigindo explicações e que ele ao menos separasse as milhares de fotos que tiraram juntos. Com os hábitos mais desregrados, descritos maravilhosamente pelo autor, Rímini acabou mudando de vida na tentativa de obter alguma amnésia mágica que varreria a vida que levou com Sofía da sua mente. Ele simplesmente se deixava levar, o que com o passar do tempo se torna desesperador para o leitor, e esses hábitos heterodoxos e histórias paralelas em que se mete dão um tempero sensacional ao livro.

Pensando assim, parece só mais um melodrama comum, mas de forma alguma é. Cocaína, masturbação compulsiva, desmaios, porres, homossexualismo, história da arte, aulas de tênis, rehab. A obra contém tudo isso e reviravoltas lindas. Alan Pauls foi tão genial ao criar uma espécie de livro à parte, dentro de um capítulo, só para explicar a vida, o estilo e as histórias das obras do pintor Riltse - que desde o início da relação, foi idolatrado pelo casal e fez parte da sua história - que a reação ao terminar esse capítulo, é correr para o google e pesquisar sobre o pintor, que não existe.

O estilo do autor é intrigante, pois lembra um pouco Saramago colocando frases dentro de frases fazendo com que as orações pareçam não acabar nunca. Isso torna a leitura um pouco cansativa em certos momentos, mas na verdade o autor está apenas explicando a gigantesca e absurda gama de sentimentos dos seus personagens de uma maneira extremamente meticulosa e realística. Nunca havia lido algo parecido. É aí que você sente o tesão pelo livro, que foi absurdamente bem escrito.

O livro é da Cosacnaify. Leitura obrigatória para junkies que se perdem fácil em relacionamentos.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Nada do que eu escrevi aqui vai mudar a sua vida.

Acordar com vontade de nunca mais acordar. Voltar no tempo - não precisa ser muito, só uns dias atrás - me faria feliz por alguns instantes. Mas aí é que está a questão chave do futuro. Voltar no tempo seria válido? Foi bom pra caralho mas agora paira a incerteza de qualquer resultado satisfatório sobre qualquer ação ínfima, discreta e sem nexo que você toma - ou tomaria, caso a viagem no tempo acontecesse - logo ao acordar. Vale a pena levantar duas vezes - descer do beliche, subir no beliche - para tomar uma caneca de água seis da manhã ou vale a pena dormir bem?
Incertezas acordam do seu lado, no mesmo tempo que você, e elas só esperam alguém que, nem saiba o que está fazendo e que também está caminhando ao lado das suas incertezas sem saber, como alguma sombra em um ângulo invisível para quem anda distraído, abra a boca, cuspa qualquer merda nos seus pensamentos e voilà. Você vira uma barata tonta, de ressaca, calções velhos alimentando seus fiéis ouvintes na internet enquanto pensa na namorada, caga agora ou depois, na inscrição do vestibular, na cotação do dólar, roubar jornal do vizinho só para ver os cartuns...
Seria mais interessante se as garrafas de conhaque viessem com questionamentos como, vale a pena a ressaca e a incerteza com vontade de suicídio por ver a sujeira em que vive e o vômito do gato na frente da porta ou, será que a sua namorada vai ficar muito chateada pelo fato de que na primeira chance que você tem você passa por cima de qualquer sentimento expressado e ignora o fato de ter uma namorada, o que realmente vai te deixar com o peso na consciência - pois nunca o quis fazer, mas você é um dissimulado que vive em outro planeta e não guarda nada imediatamente no coração, só guarda o saudosismo barato - e tirar o sono dos justos pois, afinal, você ama ela e não dá a mínima pra quem não a ama e ou desconfia da tua felicidade não sendo solteiro. Não sei se valeria a pena. Perguntas como essas escritas numa garrafa não seriam nenhum tipo de panaceia ou mágica que vai te dar a certeza, o bom humor e a tolerância para alimentar os chatos no seu dia-a-dia.
Falando em alimentar, até comida eu teria se voltasse no tempo, porém, como é de praxe, eu não sei se é bem isso que eu quero. A comida realmente teria potencial de mudar um pouco a cara desse meu dia com cara de nome latim, difícil de ler e tema de estudo.
E de quê adianta ter todos os seus direitos garantidos se você continua acordando cedo e preocupado com o horário? Esse mundo é uma mentira. Assim como algumas pessoas e animais parasitas, não deveria existir.
Ou eu não deveria existir...
A menos que eu entendesse o mecanismo de funcionamento de como as pessoas guardam coisas nos seus corações com tanta facilidade e aprendesse a como fazer também, assim, talvez, com sorte, eu fizesse algum sentido.