sexta-feira, 11 de maio de 2012

Consequências de romances.

   No dia de ontem, Olga afirmou categoricamente que queria almoçar com Januário. Recebendo uma notícia dessas, Januário logo pegou no ar que Olga estava naqueles dias. Não naqueles, mas em outros, mais dengosos e sedentos. Dias de paixonite.
   Aproveitaram a paixonite, mostraram como nunca que eram um casal legal e fogoso, beijaram boa noite e cada um para o seu covil. O dela familiar, o dele escolar.
   Na outra manhã, como de praxe, Januário acordou. Se preparou para ir à labuta, sempre meio pesaroso pelas situações envolvidas, pelas dívidas divididas e pelas expectativas deste dia de vida. Uma dessas expectativas era o almoço. Afinal, para enamorados que se querem tanto próximos quanto possível, um almoço não cairia nada, mas nada mal. Sem falar que, com a correria dos tempos modernos, a necessidade de se preencher os cadernos e os bolsos, a cabeça e a estima dos pais, também preenche o nosso tempo de maneira inadequada, nunca dando espaços pros dois encontrarem-se. Era óbvio que Januário ia abraçar essa oportunidade de almoçar um almoço ordinário com Olga como desculpa para as vias de fato.Vias de fato limitadas pelo possível, claro.
   No trabalho, nada de novo. Nas expectativas também não. Januário contava o tempo de maneira paranoica, sempre calculando quantos beijos seriam possíveis em tal intervalo, levando em conta o que iam almoçar, se era um xis-treco ou um P.F no R.U. Volta e meia pensava também na melhor maneira de dizer que a amava e que pensava nela o dia todo. Melosidades necessárias, mas espontâneas.
   Em um desses momentos que Olga tomava rédea dos seus pensamentos, em pleno horário de trabalho, decidiu entrar em contato com ela para combinar a certeza do rango.
   Com os dedos discou os seguintes números: (xy)-xxyy-zzxx... tuuuu tuuuuu...ela atende rapidamente:
-Oi. Diga.
"Nossa, que merda de oi, que merda de receptividade. Não há de ser nada!"
-E ai, minha bonitona! Onde você está?
- To na Universidade...
-Vamos almoçar, né? Como faremos?
-Você tem certeza que quer almoçar junto? - ela retrucou.
"Que porra é essa? Já não estava certo que íamos almoçar, caralho?"
-Ué, meu. Eu quero, claro. A gente não combinou ontem?
-É eu sei...
- Então vamos, não?
-... ... ... ... é, dá pra ir.
"Porra, que desânimo! Ela não deve estar muito bem."
   Essas possibilidades sempre tocaram forte os pensamentos de Januário. Como as expectativas do almoço ainda não haviam passado, apenas balançaram, ele preferiu seguir a linha de raciocínio romântica, geralmente usada pelos românticos que romanceiam tudo o que vivem. A maneira deles formularem pensamentos é mais ou menos a seguinte: tudo vai sair como eu imagino, nada diferente, tudo perfeito e agradável.
-Então, te encontro aonde? - ele perguntou.
-Faz assim: sai do trabalho, vai pra sua casa e me liga.
"EIA!"
-Tá bom. Beijo!
-...tchau.
   Com essa bofetada nas ideias, Januário continuou com os seus afazeres até que chegou o horário esperado por todos os que trabalham nesse mundo, o horário de almoço.
É escusado dizer que, ontem, antes de deitar-se, Januário abriu as portas do seu guardar-roupas e escolheu sua pólo mais nova, a calça mais limpa e mais bem ajustada, a cueca mais confortável e separou o seu único e fiel perfume, o qual Olga adorava.
Olga e Januário são um casal lindo. Lindo na aparência, espetacular na cama e completo nos sentimentos. Sempre se agilizam de maneira que sobre tempo para encontrarem-se. Dificilmente discutem,sabem conversar sobre tudo e sobre si próprios. Amam-se.
   Foi num desses comuns frenesis que ontem combinaram o almoço.
   Januário mora perto do serviço. Logo chegou em casa, ligou para Olga.
-Oi. Já saiu da Universidade?
- Já to saindo...
-Então quando chegar perto daqui de casa me dê um toque que eu desço.
-Ta
-...beijo.
-...
   Enquanto espera o toque, em seu quarto, Januário lê mais um romance.
   O toque é dado. Ele desce, procura por ela. Eles se desencontram. Muitos outros toques são dados por ambos os lados, mensagens enviadas e voltas dadas. Burrice dele! No desespero de olhar logo para a pessoa de Olga, satisfazer uma de suas vontades, se atrapalhou todo! Saiu correndo de casa pela rua errada e com o coração tomando a frente das pernas.
Depois de algum tempo procurando, finalmente se encontram. Ambos sorriem da patuscada, beijam-se o olá e começam a caminhar. Ele rompe o silêncio:
-To pensando em comer la no Babuska. Lembra que lá é bom? Já fomos comer lá com o Homero.
-Nem lembro...
-Como não? Foi no dia em que vocês foram para a caverna.
- Ah é!...
   O coração que pertencia a ambos, mas se encontrava no peito de Januário, deu um nó. As ideias então nem se fala.
   Entraram no consenso sobre onde comer e foram. Durante o almoço, tudo bem. Alguns risos, conversa jogada fora, carícias simpáticas. Nada disso enganava Januário, ele conhecia Olga bem até demais.
Dividiram a conta e saíram. Januário, sagaz como sempre, logo pensou onde levar Olga para fazê-la falar o que realmente estava acontecendo, saber o porquê da frieza de tratamento. A sacada perfeita foi levá-la ao parquinho da praça central, local que ela já havia confessado que pretendia voltar com ele e que, todas as vezes que iam lá, saiam mais animados com a relação.
   Januário começou a ficar com medo de dar um tiro no pé. Leva-la lá para escutar o que não queria. Mas possibilidades como essas sempre são rechaçadas pelo instinto débil dos românticos. Querendo chegar aonde queria chegar, Januário começa:
-Tô meio cansado.
-Eu também.
-Daqui a pouco tenho que voltar pro serviço.
   Ele da um beijo sutil nela. Ela sorri de maneira distante. Se roendo por dentro, ele não resiste aos impulsos e pergunta:
-Você tá bem? Tá acontecendo alguma coisa?
-Sei lá, to meio distante.
-Pois é to vendo.
-Você entrou no Facebook quando passou pela sua casa?
-Nem entrei. Por que?
-Porque eu escrevi la: "Não quero almoçar junto hoje".




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