Perdi o primeiro dia da primeira
Virada Cultural que a nossa cidade recebeu. Na verdade nem senti muita falta, a
não ser quando meus amigos contavam a loucura que foi. Uns me disseram que a
chuva não atrapalhou a baderna do ronquenrrou na frente do palco. Já meu colega
de apê, coitado, chegou em casa gripadão. Ele e a namorada. Contou que no meio
do toró e da balbúrdia chegaram a jogar o resto do gelo da caixa térmica na
galera, e ninguém se importou. E olha que a caixa escapou da mão dele e foi
parar na cabeça de um desconhecido de porte atlético descomunal e cara de
bulldog. Eu não estava lá, mas não contesto a história. Conheço os amigos que
tenho.
No domingo eu fui. Fui com a
patroa. Mas, no afã de querer fazer boas fotos, chegamos cedo demais. E o verão
ponta-grossense não perdoa. Sei que ainda é primavera, mas aqui quando sai sol,
sempre gosto de pensar que é verão. Então ficamos lá, sem nada pra fazer, já
que as atrações da tarde não atraiam. Andamos tanto que até conheci o Parque
Ambiental mais uma vez. Também conheci os novos skatistas, os sorveteiros, os
novos punks das velhas tribos que ficam ali no terminal. Até que numa dessas
voltas pra espantar a falta de assunto, encontramos dois amigos. Bons amigos. E
no calor os bons amigos sempre sugerem uma cerveja. Esses meus amigos são tão
bons que até nos recordes do inverno chegam aqui em casa, sem mais nem menos,
com a bebida.
Descobrimos o caminho do BIG. Lá
tem um quiosque com garrafas retornáveis que saem muito barato. Era preferível
fazer o caminho ambiental-BIG diversas vezes do que pagar quarto reais a lata.
É pelo preço da bebida que se descobre o tamanho da cidade. PG é média, mas
quer se fazer de grande prematuramente. Cidade estabanada.
Com as cervejas, escolhemos um
lugar para formar a nossa “rodinha”. Não muito longe do palco, mas mais longe
do que perto. É que, independentemente do artista que toca, aqui a frente do
palco sempre é reservada aos bêbados dançarinos e cantores. Não que ao final da
noite estes estejam todos lá. Ao final da noite eles já estão por toda parte.
Como estava bebendo, voltei a
fumar. É, voltei. E não tive vergonha. Quando eu quiser parar de novo eu paro,
até porque é fácil. Eu já parei de fumar umas 20 vezes. Mas não é isso o que
importa. O que importa é quem aparece para lhe dar esse lazarento desse cigarro.
No meu caso foi uma grande amiga, enviada por deus, direto da capital. Grande
pequeniníssima amiga. Juntou-se a nossa roda, e como bons ponta-grossenses,
logo ficamos sem papo. O negócio foi voltar ao grande BIG. E depois voltar ao
ambiental, ver como o povo se comportaria na primeira Virada Cultural.
Desajeitados. Eram muitos os
tipos estranhos, muitos que queriam transparecer uma imagem de acostumados com
tudo aquilo, com um domingo no parque, escutando vários estilos de música e
confraternizando. Mas era tudo novo. Sem falar que ponta-grossense não confraterniza,
se envolve com estranhos de maneira estranha. Pra mim era tudo muito estranho.
Não é como nas cidades mais nortistas, onde a promiscuidade não incomoda o
cidadão nesse tipo de acontecimento. Aqui todo mundo parecia meio ressabiado.
Eram shows. Em show se dança, grita, pula, faz baderna, assiste ao show. Aqui
era um lá no fundo arriscando uns passinhos, outro em baixo de uma estrutura
fingindo que sabia a letra, uma galera torcendo o nariz pra tudo, outros que
nem sabiam o que se passava. Mas eu entendo. E apesar do pessimismo, sou
otimista. Temos e vamos nos acostumar com esse tipo de coisa.
A Coisa não tocou, deveria. Mas
ali, pelo menos entre os meus, todo mundo queria saber era da Cadillac. Que
horas a Cadillac vai tocar? Essa era a pergunta. De noite. Essa era a resposta.
E pra quem chega às três da tarde a noite não chega nunca. E pra quem tá sem um
puto no bolso, um mísero puto que possa servir de intera em qualquer coisa que
faça o tempo passar, parece que a noite só virá amanhã.
Mas veio em tempo. O Kianurrives
também, pra pagar mais uma pra gente. Logo se enturmou – acredite quem quiser –
e também perguntou pela Cadillac. Acho que o nome da música deveria mudar. Ao
invés de Brand New Cadillac, ali tinha que se chamar Bring Me The Cadillac. E
no meio de tudo isso, essa estranheza peculiar local, meus amigos, a cerveja, a
música, a pobreza e a espera, eu fazia minhas fotos.
Quando eles subiram ao palco, eu
já estava lá. Na frente. Disputando lugar com os seres que habitam essa região
obscura, descriminada, mas desejada no íntimo de todos. Comigo não tem vez. Ou
eu estou lá pra fazer as minhas fotos, ou porque...
Não é uma pena, mas desta vez eu
fiz as fotos.
Massa
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