quinta-feira, 29 de março de 2012

A velha história

   Investimentos para o futuro. Ter uma casa para viver a velhice, viver a energia que nos resta. Geralmente é esse o único sentido que os pais dão para um filho se entregar à labuta. Se não é esse, um dos mais comentados é a obsoleta dignidade. Obsoleta nos dias de hoje, principalmente se tratando do sentido considerado pelos nossos patriarcas. E assim, com esse sentindo bem vago, difícil de ser entendido por boa parte da juventude atual, nossos pais e conselheiros mais velhos nos confundem e inibem cada vez mais os nossos instintos de procurar a felicidade.
   Provavelmente é alguma frustração seguida de consolo. Frustração por, na época de juventude deles, não conseguiram correr atrás das suas vontades e realiza-las. Respeito incondicional aos que venceram. Naquela época era tarefa árdua. Se hoje já é, imagina vivendo em cidades completamente conservadoras, semi-rurais, onde a pesada mão da igreja e a falta de cultura dos pais imperavam. Sem falar nas oportunidades. Hoje essas são bem diversificadas, podem atender a todos os gostos, tanto financeiro como emocional. Daí vem a frustração. E o consolo, fácil dizer qual é. O consolo é o próprio sentido que eles usam nas explicações mirabolantes e incentivos paupérrimos que nos fazem ouvir: a sonhada estabilidade financeira, a casa própria, o churrascão no final de semana que vai ser bem comentado pela vizinhança, as bundas no sofá vendo a telinha esquentando.
   Quando eu vejo pais incentivando os filhos - veja bem, incentivando, não dando conselhos erráticos e pernetas - eu tenho vontade de aplaudir. Também por carência que sinto disso. Incentivar os filhos a correr atrás do que acredita não quer dizer: "Vai lá filhão, se fode aí! Qualquer coisa eu to aqui." Incentivar é dar suporte, neste caso, principalmente o emocional - o financeiro também é imprescindível. É muito mais fácil você acabar se tornando bem sucedido em algo que aprecia, que faz com gosto e abnegação, do que apenas cumprir tarefas bem remuneradas, sem saber o porquê, o pra quê e principalmente sem gostar. É mais importante se sentir bem sucedido do que ser bem sucedido para quem quer isso de você.
   O mundo hoje oferece muitas oportunidades para quem corre atrás do que quer. As vezes um empurrãozinho paternal pode criar uma pessoa que se sente a mais feliz do mundo, mas o receio e a ideia conservadora, de querer criar um filho para si e não para o mundo, geralmente repetem a história na íntegra:
frustração e consolo.
 

sexta-feira, 23 de março de 2012

Pornografia antiga

Quem bate punheta hoje e não batia há vinte anos atrás, dificilmente vai ter uma ereção vendo um pornô das antigas. Hoje, o que chamamos de vídeos de sexo explícito, parecem mais uma aula de anatomia humana para quem etá cursando doutorado em alguma área da ginecologia.
Me peguei assistindo alguns pornôs bem velhos, do século passado - estimo que eram de 1975 - , enquanto escrevia umas bobagens. Parando para reparar, percebe-se a inocência na obscenidade. E olha que era uma cena lésbica! Cena de bom gosto, com mulheres de verdade, gestos e gemidos instintivos, naturais. Peitos naturais, sutis! Quem nasceu neste século provavelmente nunca bateu uma pra uma mulher com peito natural.
Aí está o meu medo! O que as crianças entendem hoje como proibido, como sexo e como prazer? No pornô que assisti, a história se passava em uma fazenda onde as garotas fugiam pro mato para realizar um desejo movido por um sentimento legal, natural. Agora os pornôs nem história têm - e quanto tem a gente pula - e já começam com sexo brutal, deselegante e com personagens mais artificiais do que pipoteca de pizza.
Imaginem um garoto de onze anos. Não sabe nem pegar no pinto, mas navega na internet com a destreza de Neymar com a pelota. Um gordinho de prédio fuçando sites pornôs e se espantando quando vê uma vagina com pelos ou um peito em tamanhos normais.
Coitada dessa geração de broxinhas. Vão perder as melhores partes e recompensas do jogo sexual. Vão achar que é só chegar comendo.
Tomara que as meninas dessa idade, na hora de dar, não deem. Não pra esses aprendizes de máquinas. Tomara que ainda existam galanteadores. Tomara que a inocência seja divertida e a obscenidade...um pouco mais humanizada.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Eu vou torcer.

Existem prazeres que exigem certa sutileza na execução da ação, só assim pode-se aproveitar e encontrar o que realmente se procura. Ultimamente tenho frequentado alguns bares aqui onde moro. Geralmente vou com a minha namorada, sempre para beber e jogar bilhar. Ela é uma ótima adversária. Às vezes eu fumo meu cigarro e, quando dou muita sorte, consigo curtir uma música legal.
Há um tempo atrás, eu andava desacreditado, assim como os bares, pra mim. Faltava o entusiasmo para sair de casa e ir até o bar. E o bar não fazia nada por isso. E isso incomodava.
É parecido com o futebol. Você, assim como eu, adorador do futebol, que assitia o Ronaldo Gaúcho acabando com os jogos, arrepiando as zagas e os torcedores, e sempre atendendo às expectativas de quem parava para curtir o seu jogo. E hoje tem que ver um cara desacreditado, sem vontade e perspectivas.
O tempo passa e o foco muda. Hoje já temos Messi, Cristiano e Neymar. Hoje eu vou procurar outras coisas no bar. Ou nada. Sentar, tomar a cerveja, jogar conversa fora, encontrar pessoas chatas, mulheres feias, jogar bilhar, assistir o futebol, pessoas legais, fumar, rir, comprar mais fichas, reclamar e beber. Esse é o protocolo.
Não tem erro, é por isso que hoje pouco me decepciono. Sempre que ia esperando porres fantásticos, roteiros hollywoodianos e um oásis para a vida cotidiana, nada disso sequer chegava perto de acontecer.
Sutilezas e coisas corriqueiras, assim como ficar feliz por voltar a frequentar uma sala de aula, gastar vinte reais em algo muito útil, beijar boa noite na sua mulher.
Até os bares que eram frequentados pelos nossos mestres da literatura junkie, beat e até mesmo os mais românticos, exalavam uma essência de imperfeição. Ou eram a pura imperfeição. Mas os velhos cães sempre estavam lá, reclamando e bebendo.
Hoje é possível frequentar um bar. É só mudar o foco. Deixar de olhar pro lado, procurando algo que não existe, procurando cenas que se passam nas dashboards dos Tumblrs da vida.
Hoje eu torço pela alegria, pela namorada, pelos sorrisos, pela nega na sinuca, pela fumaça e pelas sutilezas.

Uma pena.

A gente torce, se interessa, acompanha e às vezes até se envolve com certa paixão em alguns assuntos públicos. Podem surgir discursos veementes, teorias eficientes e até mesmo concordância de opiniões. Mas o que eu quero atentar é que alguns costumes, nunca mudam, por mais que se desenvolvam meios corretos para se atingirem os fins desejados.
Hoje (12/03/2012) quando eu vinha para o trabalho, resolvi pegar o ônibus no terminal central, e por isso passei pelo nosso querido e difamado Calçadão da Coronel Cláudio. O Calçadão é um dos lugares mais conhecidos da cidade, se não for o mais conhecido. Sempre muito movimentado, com seus vendedores de DVDs, filas para pagamentos, loucos berrando, trabalhadores e cidadãos. As pessoas costumam comentar sobre o aspecto do lugar, e o que mais se ouve é: sujeira. A falta de segurança vem em segundo lugar.
A solução para a sujeira, muitos diriam, é simples. Coloca-se lixeiras em cada quadra e o problema está resolvido. Pois é. Deveria estar resolvido, pois as lixeiras foram colocadas em boa quantidade, em locais bons, e também eram boas as lixeiras (ao contrario de umas que estavam surgindo, que eram apenas um aro onde se pendurava um saco de lixo de maneira ridícula). Pelas minhas contas, meio por cima, em toda a extensão do calçadão foram colocadas umas 50 lixeiras. É sério, cinquenta! E hoje se encontram lá apenas duas ou três. Também é sério! Todas as outras quarenta e sete foram queimadas, arrancadas, chutadas, roubadas e alvo de todo tipo de vandalismo.
Já era de se esperar. Já passaram pelo calçadão depois das 23h? O calçadão está abandonado, abrindo o espaço de uma madrugada inteira para que sejam cometidos atos como estes. Faltou um certo planejamento, pois era algo quase certo que mais cedo ou mais tarde isso iria acontecer. E mais do que planejamento, falta
educação.
A atitude tomada em relação à sujeira, foi ótima. O problema que persiste em várias situações parecidas é o velho costume primitivo, atitude grotesca e repugnante que, alguma pequena parcela da população sempre coloca em prática quando oportunidades aparecem. O maldito vandalismo.
Acho que é a vontade de se sentir poderoso, já que usando de meios justos e louváveis nunca obterão algum resultado satisfatório enquanto a mentalidade seguir essa linha de ação. Alguns desses atos podem ser sanados colocando alguma vigilância nos horários propícios, algum tipo de monitoramento eletrônico (só não vale aquelas câmeras com resolução tão limitada que é impossível distinguir um ser humano de uma girafa). Mas o verdadeiro buraco é mais em baixo. Envolve cultura, instrução e principalmente educação.